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Como engajar experts em mineração com os jovens profissionais?

em Artigos
sexta-feira, 10 de março de 2023

David Braga (*)

Precisamos trazer luz para as mudanças contínuas no ambiente corporativo.

Todos estão se reinventando, adotando cada vez mais tecnologia em seus procedimentos, sobretudo, olhando cada vez mais para quem entrega os resultados: as pessoas. No setor da mineração não é diferente – ele também precisou se reinventar, buscando se adequar às práticas ESG (da tradução em inglês que remete a social, meio ambiente e governança), adotar ações de sustentabilidade em seus processos e revisão de metodologias.

Apesar de lançar mão da tecnologia em vários aspectos, percebo que é um setor que ainda conta com um time enorme de pessoas qualificadas a longo prazo. O que significa isso na prática? Há muita gente nova numa ponta (que ainda precisa de muitos quilômetros para aprender as técnicas e meandros da mineração) e profissionais muito sêniores – tanto de conhecimento como de idade, na outra.

O meio campo, ou seja, a média gestão, está cada vez mais escassa. A alta gestão, juntamente com a área de recursos humanos, precisa, cada vez mais, saber identificar quem são esses profissionais da média gestão, aplicar as ferramentas avaliativas, também conhecidas como assessment e analisar quais são suas principais competências e habilidades.

Ao mesmo tempo, capacitar, difundir conhecimentos, criar formas de disseminar esse conteúdo de maneira mais horizontal, para uma nova safra de talentos surgir. Um caminho, nesse sentido, é aproveitar as pessoas mais experientes da companhia, como condutoras desse processo, seja por meio de seminários, workshops, mentorias, rodas de conversa e, com certeza, visitas e trabalhos em campo.

Todos nós estamos ávidos por experiências diversas e por que não levar jovens trainees que acabam de chegar à empresa para uma imersão de fim de semana na planta minerária, com os colaboradores mais sêniores? Esse movimento é interessante porque, além de dar luz aos experts e toda a bagagem que construíram ao longo de sua carreira, é uma forma de valorizar a prata da casa ao incentivá-los a compartilhar seus conhecimentos e experiências de tantos anos com quem está chegando.

Com certeza, terão inúmeras histórias de vida e de trabalho interessantíssimas de serem relembradas. Como muitos desses profissionais mais experientes estão prestes a se aposentar, levando consigo esse arcabouço de vivências e olhar crítico sobre o setor, extrair deles esses anos de conhecimento, em eventos de integração com os mais jovens, não apenas reforça a boa relação entre gerações muito diferentes e a troca de aprendizados, como trabalha diretamente com a questão do etarismo – tema muito debatido na atualidade -, deixando também de lado o caráter tecnicista do cotidiano mineral.

Imersões dessa natureza têm despontado em algumas empresas como uma ferramenta de gestão habilidosas, pois trabalham inúmeros aspectos ao mesmo tempo: a cognição, a memória, os valores e crenças, a ética e as vivências dos mais velhos, pessoas que conhecem a fundo o negócio, dedicaram anos e horas de suas vidas à companhia e têm um senso se pertencimento relevante.

Do outro lado, esse tipo de prática leva os mais jovens, hoje conectados aos celulares, a ter mais atenção e foco, os ensina a dar mais valor e atenção ao ‘tiozão’ que senta na mesa ao lado, resgata neles a importância de respeitar quem veio antes e detém mais conhecimento.

Não é um cenário de disputa, mas de compreender que, independentemente do cargo que você ocupa numa corporação, é bacana ter empatia e cordialidade, além de admiração por quem já estava lá e por sua história. Como muitas empresas ainda trabalham com técnicas rudimentares nos processos de extração, ofertar um cenário de inovação é fundamental para se manterem, a médio e longo prazo, vivas.

Por isso, incentivar essas trocas entre colaboradores mais experientes com quem está chegando, ofertar cursos de especialização que envolvam novas práticas da mineração, tecnologia aplicada ao setor, aperfeiçoamento de idiomas, enfim, abrir o campo intelectual de um setor tecnicista para questões do século 21 é de extrema importância.

(*) – É CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent; conselheiro de Administração e professor convidado pela Fundação Dom Cabral. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent