Julio Gavinho (*)
Sou fã dos grandes circuitos de bicicleta mundo a fora. Castelos do Loire, Serra Gaúcha, volta de Florida, Grand Canyon e o famoso caminho de Compostela.
Quem inventou a bicicleta como nós conhecemos foi o ferreiro escocês Kirkpatrick Macmillan, em 1839. Foi ele quem primeiro apareceu com os pedais grudados na enorme roda da frente – acreditava-se que quanto maior ela fosse, mais rápida a engenhoca andaria. Naquela época as ruas sem calçamento eram divididas entre os cavalos ou charretes, e as modernas bicicletas da época.
O pior acidente que poderia acontecer seria um tranco de um cavalo mais irritado que provocaria um ou outro arranhão mais ou menos sério. Ninguém era atropelado por uma carruagem e nem ciclovia existia. Eu ando meio amoado com estes atropelamentos quase que diários no Brasil, em especial de “bicicleteiros” urbanos.
Quando um ciclista é atropelado nas ruas de nossas metrópoles, ele é vítima de todos nós. Eu explico: todos nós reconhecemos a ferocidade do trânsito das ruas, avenidas e estradas do Brasil.
Fomentar a ocupação das ruas por bicicletas que disputarão espaço com ônibus, caminhões e imbecis em geral é ser conivente com o assassinato anunciado destes incautos que se acreditam protegidos. Eles serão mortos e adicionados a macabra estatística de assassinatos no trânsito porque acreditaram no prefeito, no vereador e em você sobre o quão seguro é andar de camelo pelas ruas de São Paulo, por exemplo. Você é culpado.
Já sei: você acha que o espaço público é para todos etc, etc. Eu até entendo e louvo seu argumento, mas ele não resistirá a um bi-articulado espremendo você e sua magrela contra a guia, na rua. Get real. Os dispositivos de proteção a vida devem vir antes dos discursos panfletários de mobilidade social. Aqueles, em especial, discursados sob a trilha sonora do Raul Seixas e sua próspera sociedade alternativa, em uma realidade fantasiosa que ainda não existe.
É nossa obrigação promover a inclusão em todos os projetos de mobilidade urbana e a bicicleta é peça fundamental neste cenário. Entretanto antes de soltar as presas nas ruas, precisamos preparar os predadores. Antes de disputar espaço com os predadores, precisamos educar também as presas. Os espaços precisam ser adaptados, os motoristas educados, e os atos de violência e acidentes apurados, julgados e, se couber, punidos.
A partir daí eu me sentirei seguro de tirar a magrela da garagem e pedalar, não só aos finais de semana como também em todos os dias, indo e voltando do trabalho. Certamente me sentirei neste dia tão feliz quanto nos belos campos da Normandia, bem ali na Mancha, pedalando na estrada entre carneiros e montes de sal, com a proteção de São Miguel e seu mosteiro ao fundo.
Mas por enquanto, para mim, por aqui, é carro ou taxi.
(*) – É executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality.