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Bolsa exige jogo de cintura dos investidores

em Artigos
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Antonio Marcos Samad Júnior (*)

A Bolsa de Valores de São Paulo tem hoje mais de 4 milhões de CPFs cadastrados.

É uma quantidade pequena se compararmos a países como os Estados Unidos. Lá, mais da metade da população investe no mercado financeiro. Mesmo assim, os números da B3 são surpreendentes se considerarmos que, em dezembro de 2019, existiam 1,68 milhões de CPFs na base de dados da B3.

Essa corrida para a renda variável aconteceu porque a taxa básica de juros estava muito baixa – a Selic chegou ao patamar de 2% ao ano – e muita gente tirou o dinheiro da renda fixa para buscar mais rentabilidade em ativos de maior risco.
Esse movimento é importante porque tirou parte dos brasileiros da zona de conforto. Quer coisa melhor do que ter bons retornos sem ter o mínimo de preocupação? É o que acontecia com os juros nas nuvens.

Mas não era um ambiente saudável para a economia como um todo. A questão está no fato de que a maioria desses investidores não estavam preparados para a renda variável. Investir em ações é, sim, uma forma interessante para a multiplicação dos recursos financeiros, mas é preciso ter muita atenção e bom conhecimento para se dar bem. O conselho dos especialistas é de que o investidor não pode ter pressa ao escolher a Bolsa. Os ganhos são possíveis no longo prazo. Tentar lucrar de um dia para outro só é viável para os experientes especuladores.

O conselho parece bom, mas não é bem assim. O que é longo prazo? Temos como exemplo um levantamento recente da Comdinheiro mostrando que o Ibovespa foi o pior investimento em 10 anos, perdendo até para o CDI. Quem investiu no Ibovespa no dia 31 de agosto de 2011 e retirou o dinheiro apenas no dia 31 de agosto de 2021 obteve rentabilidade de 110,25%. Surpreendentemente o percentual é inferior aos 125,84% ganhos por quem escolheu um ativo indexado ao CDI para deixar seus recursos no mesmo período de tempo.

Nesta mesma base de comparação, o dólar valorizou 224,05%, sendo o ativo com a melhor performance entre aqueles pesquisados pela Comdinheiro. O ouro teve o segundo melhor desempenho (214,28%) seguido do IMA-B, indicador que acompanha o rendimento dos títulos Tesouro IPCA+ e que rendeu 202,96%. O IHFA (Índice de Hedge Funds ANBIMA) gerou retorno de 171,20% e o Euro, moeda da Comunidade Econômica Europeia, 165,47%. Em outras palavras, quem escolheu o Ibovespa durante esse período se esforçou muito para ganhar pouco.

Isso não significa que a Bolsa seja um lugar ruim para se investir e sim que não é um lugar para amadores. Mesmo nesse período houve quem tenha obtido retornos bem superiores investindo em ações específicas ou perdido muito, o que pode ser explicado com uma única palavra: volatilidade. Como vemos, simplesmente deixar o dinheiro parado pode não ser a melhor opção. O levantamento em questão tem como base um período de 10 anos, muito tempo para, no fim, ter um retorno menor do que o que seria obtido com o CDI.

Ocorre o seguinte. A Bolsa sobe e desce o tempo todo. É possível que nesse mesmo período, investidores profissionais tenham conseguido rentabilidades muito superiores ao que foi levantado. Mas isso só foi possível porque eles não deixaram simplesmente o dinheiro parado. Pelo contrário, venderam e compraram ações conforme a movimentação do mercado. O conselho de esperar o longo prazo é válido para quem investiu em uma ação ou conjunto de ações que teve queda. Se o investidor ficar desesperado e sacar ele terá perdido dinheiro.

Então, é preciso esperar o tempo necessário para o papel atingir uma valorização que lhe confira lucro. Mas não precisa ser assim. Há outra forma de ganhar dinheiro com a Bolsa, mas que exige muito conhecimento. Então, quem não tem experiência pode se apoiar no trabalho de traders, profissionais do ramo com conhecimento e experiência no mercado. Com o apoio desses profissionais é possível ganhar dinheiro no curto prazo e até mesmo de um dia para outro.

É preciso entender que a queda do Ibovespa não significa que todos os papeis se desvalorizaram. Quem confiou na experiência de um bom trader, certamente lucrou muito mais nesse mesmo período porque ele tem o entendimento e a agilidade para vender e comprar ativos no momento certo. Ou seja, multiplica-se o dinheiro no longo prazo, com ganhos obtidos no curto e reinvestidos. Bolsa não é renda fixa para só dar retorno, nem o antigo overnight, que rendia diariamente. É preciso ter jogo de cintura para investir em ações.

Fora isso, vale aqui o bom e conhecido conselho de nunca colocar todos os ovos na mesma cesta. O ideal é diversificar as ações não só por empresas, mas também por segmentos da economia. Deixar uma parte em renda fixa como reserva de emergência, e em outros ativos. Não é porque o mercado se comportou de uma maneira nos últimos dez anos que ele vai seguir o mesmo caminho na próxima década. Pode acontecer o contrário, nunca se sabe.

(*) – É sócio da Axia Investing (www.axiainvesting.com.br).