Rafael Marchesano (*)
Modelo clássico de marketing de um esquema de pirâmide: uma empresa paga uma pessoa influente para promover o seu produto e trazer mais clientes.
O esquema ganha tração vendendo sonhos tentadores com a promessa de enriquecimento rápido e sem muito esforço. O primeiro “leigo” que essas empresas enganam são artistas e influenciadores que não são experts em investimentos. Assim como as vítimas, eles são convencidos que é um ótimo negócio, que é tudo legal e ainda ganham um dinheiro para fazer a publicidade.
Um dos exemplos mais marcantes aconteceu com o comediante Dedé Santana e a cantora Simony (ex-Balão Mágico), que foram usados como garotos-propaganda pela Unick Forex. Recentemente outro caso semelhante veio a tona. A cantora de forró Juliana Caetano, vocalista da banda Bonde do Forró, divulgou para seus 4 milhões de seguidores um robô de trader que promete ganhos de 4% a 10% ao dia. Obviamente, tudo isso não passa de fantasia.
Assim como no esquema de pirâmide, o mercado formal de investimentos também vem assistindo algo semelhante. A cada dia que passa cresce o número de perfis nas redes sociais, com milhares de seguidores, que compartilham dicas de ações que são a bola da vez e mostrando fotos de trades vencedores. Em comum, os anúncios contam com garotos-propagandas em lugares lindos, com relógios e joias caras, etc. Nesta linha, impressiona a semelhança de uma influenciadora fitness que foi “cancelada” por banalizar a pandemia e meses depois voltar a ativa declarando que virou trader e que “nasceu para isso”.
Certamente esse cenário de migração rápida para a Bolsa, com novos entrantes menos experientes, se tornou um terreno fértil para aproveitadores que vendem cursos e fórmulas rápidas para o sucesso, mas também forma um ambiente propício para bolhas, como bem observou o CEO da XP Investimentos, Guilherme Benchimol. A questão é que bolhas podem ser muito lucrativas para quem consegue antecipar o que está acontecendo, que raramente fazem parte do grupo de novatos.
A Comissão de Valores Mobiliários também vem alertando para uma ameaça crescente que os influenciadores podem representar para o bom funcionamento do mercado. Segundo a autarquia, o monitoramento dos meios virtuais na formação da opinião do investidor ganha cada vez mais relevância. Isso porque um influenciador com muitos seguidores focado no mercado financeiro pode inflar o movimento do preço de alguma ação para obter ganhos, formando uma espécie de “bolha” para chamar de sua. O maior risco está presente nos papéis de menor liquidez, com baixo volume de negociação diário.
Um caso que ficou famoso foi a “bolha do alicate” envolvendo a fabricante de alicates Mundial, que entre 2010 e 2011 chegou a superar os volumes diários de negociação da Vale e Petrobras, impulsionado por um assessor de investimentos bastante influente. Isso em um mundo onde o primeiro iPhone completava apenas seu terceiro ano de vida. Atualmente o efeito manada é muito mais potente e torna esse tipo de atuação ainda mais perigosa.
No Brasil, felizmente temos um regulador atuante que deixa sempre claro que sua prioridade é defender o investidor comum, elo fraco da cadeia e quem acaba pagando a conta. Isso é fundamental para retirar do mercado os oportunistas, além de fortalecer aqueles que buscam fazem um trabalho sério. É fato também que regulação é sempre um obstáculo para a inovação, mas a CVM tem uma postura aberta e propositiva. Um bom exemplo é a criação do mecanismo do sandbox regulatório.
Com o mercado de investimentos e a bolsa tão aquecidos, aumentam as chances de pessoas comuns serem utilizadas como massa de manobra e os influenciadores são ferramenta importante para todos os esquemas, seja no mercado formal ou no informal. Porém, no mercado formal o órgão regulador criou os meios para reduzir essa possibilidade. Para evitar entrar em enrascadas, procure seguir aquelas pessoas ou instituições que se preocupam com as regras do jogo. É fácil checar isso.
Veja se os influenciadores que você segue estão credenciados na Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC). O órgão disponibiliza uma lista de profissionais e empresas credenciadas. Isso reduz seu risco e ajuda a fortalecer o ambiente de investimentos.
(*) – É sócio-fundador e CEO da TradeMachine, fintech que disponibiliza investimentos em renda variável a partir de estratégias automatizadas indicadas pelos seus algoritmos.