Jean Carlo Bob (*)
Nos últimos dez anos, o cenário financeiro mundial tem passado por uma transformação sem precedentes devido ao surgimento de players não tradicionais, como neobancos, fintechs e big techs. Essas empresas têm remodelado o mercado e estão começando a impor novos movimentos aos bancos tradicionais que, por sua vez, estão diante de grandes oportunidades para modernizarem suas estruturas tecnológicas com novos equipamentos, ATMs e sistemas digitais.
Um dos indicadores mais notáveis dessa mudança é o fato de mais de 300 fintechs globais terem alcançado o status de “unicórnio,” com valores de mercado acima de US$ 1 bilhão, mostrando o poder disruptivo que essas empresas trazem ao setor financeiro. Além disso, as fintechs agora capturam cerca de 5% das receitas bancárias nos Estados Unidos, e esse número aumenta para até 20% em serviços e soluções relacionadas a pagamentos.
No Brasil, o cenário atual é marcado pela presença de 1.400 fintechs oficialmente reconhecidas pelo Banco Central (BC). Outro fator que impulsiona o mercado é o fato de que já temos mais 240 milhões smartphones ativos, algo que ajuda a ilustrar o potencial dos pagamentos digitais, área de interesse de grande parte das fintechs. De acordo com pesquisas, as fintechs brasileiras conseguiram captar, apenas em agosto, mais de US$ 100 milhões em fundos de venture capital.
Os números são ainda mais positivos conforme mostra o relatório Global Fintech 2023, que indica que a América Latina está prestes a testemunhar uma notável aceleração na penetração de fintechs. Os mercados latino-americanos, liderados pelo Brasil e pelo México, devem mostrar uma taxa de crescimento anual de receita de 29% até 2030. Esses países têm se tornado destinos atrativos para investidores institucionais e abraçado a tecnologias de ponta.
Essa tendência de crescimento é esperada para ganhar ainda mais impulso com o retorno de profissionais que foram treinados no exterior e que atuaram na construção do ecossistema fintech de outros países. Paralelamente, os governos da região têm adotado medidas para facilitar a implementação de sistemas de pagamento no varejo de rápida eficiência e a digitalização em todo o território. O espaço das fintechs no Brasil, em particular, está passando por um crescimento vertiginoso com grandes empresas. Vale ressaltar que um dos principais trunfos das fintechs é a capacidade de oferecer pagamentos em tempo real, um recurso que se tornará ainda mais relevante no futuro. Isso não apenas melhora a experiência dos clientes, mas também aumenta a eficiência.
Entretanto, os bancos tradicionais ainda possuem vantagens competitivas consideráveis, principalmente devido aos clientes já com relacionamento de longa data. Essa aproximação inclui dados históricos e a capacidade de oferecer serviços adicionais, como empréstimos hipotecários. Além disso, os bancos estão bem-posicionados para atender à crescente demanda dos consumidores por experiências perfeitas de pagamento omnichannel (múltiplos canais).
Para permanecerem competitivos e capitalizarem sobre as oportunidades que a transformação digital traz, os bancos tradicionais precisam abraçar a inovação e a agilidade. Oferecer soluções de pagamento integradas e instantâneas, juntamente com a capacidade de integrar-se perfeitamente em qualquer jornada do consumidor, permitirá que os bancos mantenham o controle sobre o relacionamento com o cliente.
Além disso, essa abordagem abre a oportunidade de gerar upselling afiliado de produtos, como crédito instantâneo e investimentos de consumo, que são cada vez mais demandados pelos consumidores. No entanto, para alcançar esse nível de adaptação e inovação, é fundamental que a infraestrutura de um banco permita implantações rápidas e fáceis. A adoção de novos serviços e opções de pagamento requer esforços para modernizar a infraestrutura de tecnologia, adotar o paradigma nativo da nuvem, melhorar a segurança cibernética e impulsionar uma estratégia de API que se adapte ao novo mundo do open banking.
Os bancos tradicionais têm muito a aprender com as fintechs, especialmente no que diz respeito à agilidade, inovação e capacidade de oferecer experiências de pagamento aprimoradas aos clientes. Adotar uma abordagem de mente aberta para a transformação digital e investir na modernização da infraestrutura tecnológica permitirá que essas instituições tradicionais continuem a desempenhar um papel vital no cenário financeiro do futuro, capitalizando sobre as oportunidades que a revolução digital oferece. Afinal, a adaptação é a chave para a sobrevivência em um mundo em constante evolução.
(*) É Diretor Comercial da Diebold Nixdorf Brasil.