Vivaldo José Breternitz (*)
Chamamos de Big Techs as maiores empresas de tecnologia da informação que dominam o ciberespaço desde os anos 2010; dentre elas se destacam a Amazon, Apple, Facebook e Google.
Elas estão nas manchetes mais recentes, quer por seus extraordinários lucros, alavancados pela pandemia, quer pelas preocupações que vem despertando em razão do imenso poder econômico, social e político que acumularam. Esse poder deriva da capacidade que essas empresas têm de capturar, processar e utilizar dados que transitam pela internet, a ponto de Clive Humby, um matemático inglês, ter cunhado uma frase que se tornou célebre: “os dados são o novo petróleo”.
Ao se ligar dados e petróleo, é oportuno lembrar que há até não muito tempo, as grandes empresas petroleiras tinham um papel similar ao que as Big Techs têm hoje, a ponto de uma delas, a Exxon, que usou no Brasil a marca Esso, ter sido, há cerca de dez anos, a empresa mais valiosa do mundo. Hoje, apesar de continuar operando, a Exxon vale menos que a fortuna pessoal de Jeff Bezos, o fundador da Amazon.
Além disso, suas ações deixaram recentemente de fazer parte do índice Dow Jones Industrial Average, que reflete as cotações da Bolsa de Nova York, após nele permanecerem por mais de cem anos; foram substituídas pelas ações da Salesforce, uma empresa de tecnologia. A maioria das pessoas não acredita que as Big Techs venham a perder importância, assim como a maioria das pessoas não acreditava que as grandes petroleiras deixassem de ser tão relevantes.
Alguns creditam o declínio das petroleiras à sua lentidão no sentido de reagir às mudanças de cenário, especialmente ao crescimento das novas fontes de combustíveis fósseis e de energias alternativas e à imagem negativa que a opinião pública formou ao seu respeito, especialmente por questões de agressões ao meio ambiente e apoio a ditaduras em países produtores de petróleo.
Executivos e investidores das empresas de tecnologia devem estar preocupados com a morte ou perda de relevância de suas empresas, especialmente pelo fato de a evolução da tecnologia, aliada às decisões equivocadas, poderem conduzir essas empresas a situações como as vividas pelas petroleiras. Tais preocupações devem ser exacerbadas pelas pressões que essas empresas sofrem nos Estados Unidos em função de seu imenso poder, que muitos consideram exagerado.
Cabe lembrar que, em 1984, a AT&T, a maior empresa de telecomunicações daquele país, precisou ser dividida em diversas empresas menores, como forma de diminuir seu poder. O mesmo aconteceu em 1911 com a Standard Oil, que entre outras, acabou gerando a Exxon. Parece que Andy Grove, que dirigiu a Intel, tinha razão quando deu ao seu célebre livro o título “Só os paranoicos sobrevivem”.
(*) – Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.