Fernando Rizzolo (*)
Fui à casa de um amigo convidado a uma confraternização no salão de festas do seu prédio pela passagem do seu aniversário.
São aqueles compromissos aos quais a gente não pode faltar, afinal, são anos de amizade. Já no caminho, a primeira coisa que me veio à mente foi: chego de máscara ou não? E se ninguém estiver de máscara e eu chegar vedado, serei o hipocondríaco da festa? Mas, como não costumo ficar conjecturando no trânsito, preferi conferir no bolso e certificar-me de que minha máscara estava bem ali, ao meu alcance.
Chegando lá, ao abrir a porta do salão, apertei minha máscara no bolso de ansiedade. Dito e feito, eram mais de cem convidados, todos sem proteção e bem à vontade, rindo e bebendo. Obviamente me senti aquele sujeito que no frio resolve entrar numa piscina gelada, mas com aquele ar de segurança de fazer inveja a bolsonaristas negacionistas. Sorri, cumprimentei os que eu conhecia e tentei relaxar, mantendo a calma e respirando o frescor do ar dos sorrisos, dos abraços, das janelas fechadas e da frieza do ar-condicionado.
Afinal, pensei naquela velha frase: “Se tiver que pegar, já peguei”. É curioso observar que as pessoas atualmente acreditam que a pandemia é coisa do passado, e que existe no inconsciente coletivo um certo policiamento em observar que quem está de máscara neste momento e em lugar social é quase um mal-educado. Os que tentavam entrar de máscara logo se intimidavam e sutilmente a tiravam e sorriam forçados.
Dizem que “onde há fumaça, há fogo”, e não é pra menos que, quando sento na minha velha poltrona e assisto às cenas atuais de “lockdown da China”, com todo aquele rigor, desconfio de que algo está errado, e que logo, por aqui e em outros lugares do mundo, outra bomba de vírus surgirá. Duas semanas atrás, o Brasil registrou um aumento de 29% na média móvel de novos casos de pessoas infectadas.
Já os dados da vacinação foram afetados pelo ataque hacker ao sistema do Ministério da Saúde, ocorrido em dezembro e que levou à falta de atualização em diversos estados por longos períodos de tempo. Além disso, uma pesquisa da UFMG mostra subnotificação de casos de covid em 2020 nas cidades de Belo Horizonte, Salvador e Natal.
A pergunta que não quer calar: com o novo aumento de casos de covid-19 acima mencionado, que são relativamente consideráveis, e com a ocorrência de subnotificações, agregados ao fato de uma nova pandemia na China, o que têm a dizer aqueles responsáveis pelo poder público e candidatos que aboliram a obrigatoriedade das máscaras? Assim como o governo federal, que aposta no não retorno do vírus em nível pandêmico?
Talvez as cenas de lockdown rigoroso na China estejam nos mandando um sutil recado do ponto de vista sanitário. Mas, em época de eleição, tudo é válido, até confraternizar em aniversários com uma mão na taça e outra no bolso, sentindo uma máscara que implora para ser utilizada, e eu na verdade não vendo a hora de ir embora. Agora só me resta aguardar 10 dias e ver se aqueles “parabéns a você” não me fizeram mal…
(*) – É advogado, jornalista, mestre em Direitos Fundamentais.