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A primeira vez a gente nunca esquece

em Artigos
quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Branca Barão (*)

A primeira vez que subi em um palco para dar uma palestra, não foi a realização de uma meta audaciosa que eu tinha traçado para mim mesma no último Réveillon.

Tampouco foi um desafio de trabalho que abracei como escolha, por saber que fazia parte de quem eu era e do que queria. Muito pelo contrário, fui empurrada.
No início dos anos 2000 morei um período em Foz do Iguaçu e, nessa época, trabalhava na Microlins como Coordenadora Pedagógica.

Meu chefe interrompeu uma reunião com um professor de informática, no meio de uma tarde de quarta-feira, para me dizer que eu daria uma palestra de Marketing Pessoal para uma turma de 300 alunos do ensino médio em uma escola municipal.
Por ser a aula inaugural de todos os cursos da Microlins, eu já tinha a palestra pronta e já tinha feito essa apresentação algumas vezes para turmas de no máximo 20 alunos.

Pensando no conteúdo a ser apresentado, eu estava pronta. Pensando em subir no palco, eu não estava. Fui sem estar pronta mesmo. Eu nem imaginava que esta seria a primeira, de mais de dez mil horas até aqui, que eu falaria em cima de um palco para muita gente. Também não imaginava que nunca me sentiria completamente pronta e, nem mesmo, imaginava que essa palestra mudaria a minha vida para sempre.

Nesse dia eu aprendi que estar pronto é apenas uma mentira que contamos a nós mesmos para delegar ao seu “eu do futuro” aquilo que você ainda não tem coragem de fazer. Foi aí que eu descobri que no palco ficamos mais expostos do que em uma praia de nudismo. Na praia você despe o corpo, no palco você despe a alma. Sua energia, suas crenças e quem você é de verdade ficam expostos ao deleite ou à crítica da plateia.

Nesse dia, no palco improvisado na quadra do colégio, lotada por alunos em pé, com cara de quem não fazia ideia de porque estava lá, também aprendi que uma palestra é (ou deveria ser) sobre quem está te ouvindo e não sobre você. A palestra começou como se estivesse com o freio de mão puxado. Eu estava tensa, a fala mecânica e os participantes estavam em pé. No momento em que os convidei para sentarem-se no chão e me dei permissão para não ser perfeita, a mágica aconteceu.

Nos divertimos, nos emocionamos e aprendemos. A escola teve um recorde de matrículas na semana seguinte. Aprendi que exercitar a empatia com quem estiver presente é o que fará com que você diminua o abismo entre o que diz e aquilo que os outros escutam. Descobri que aplausos são maravilhosos, mas que não faz sentido que eles sejam o objetivo da apresentação. São apenas consequência de um strip-tease bem feito da sua alma com o ritmo e a sensibilidade que envolvem, conquistam e tocam.

Uma palestra bem dada tem suor, paixão pelo seu tema, amor por si mesmo, mas tem, acima de tudo, fé. É preciso acreditar que em um mundo engolido pela rotina, cobranças, boletos a pagar e quilos a emagrecer de cada dia, há a esperança de que alguém irá sair do piloto automático e mudar a própria vida como consequência das suas palavras.

Subir no palco é poder, responsabilidade e, se você tiver coragem, é ser aquilo o que você é de verdade. E esse, acredite, é o maior desafio de todos.

(*) – Master Trainer em Programação Neurolinguística Sistêmica, é especialista em comportamento humano, ministra cursos e palestras com uma metodologia própria (www.brancabarao.com.br).