Celso Tracco (*)
O transporte rodoviário responde por 65% do total de cargas no Brasil.
A parada dos caminhoneiros escancarou a fragilidade do sistema político brasileiro e a total falta de senso e de ações coordenadas das autoridades federais, estaduais e municipais em meio à crise que se instalou com a falta de combustíveis. Já é mais do que sabido que um dos mais graves problemas do Brasil é o inchaço da máquina pública.
Políticos eleitos, assessores, altos funcionários do executivo, legislativo e judiciário, funcionários de empresas estatais, federais, estaduais ou municipais, juízes, promotores, procuradores, têm, além de seus altíssimos salários, privilégios sem fim. A lista é enorme: auxílio para moradia, paletó, viagens, combustíveis, escolas para filhos, planos de saúde, pensões nababescas, aposentadorias integrais etc, etc, etc.
Além disso temos a corrupção endêmica, que também ocorre em todos os níveis de governo, e sabemos como é difícil no Brasil que a justiça, para os poderosos, seja feita. Com todo esse caldo em ebulição, a Petrobras adota um sistema de preços, que pode até ser correto para que a empresa gere lucro, mas que é absolutamente danoso para a economia do país.
O transporte rodoviário responde por 65% do total de cargas no Brasil, já o transporte de passageiros é majoritariamente rodoviário ou aéreo. Mas é o caminhão que abastece os postos de combustíveis e os aeroportos. Ou seja, a greve de uma semana dos caminhoneiros levou o país ao caos.
Caos que só se agrava com a intervenção dos agentes governamentais, pois eles não atacam de frente o problema: a solução seria a redução da carga tributária com a respectiva redução de despesas e de privilégios da máquina pública. A desculpa é sempre a mesma: as despesas são protegidas por lei e o orçamento não tem folga, portanto a redução de preço para o diesel deve ser compensada com mais impostos.
Deve-se perguntar se é legal, juridicamente, pessoas viverem na miséria, com falta de assistência médica, de segurança, de moradia e com uma aposentadoria insuficiente para suas necessidades básicas, enquanto outras vivem uma vida nababesca.
O cidadão brasileiro está cansado de carregar um “elefante” em suas costas, esta paquidérmica máquina pública. O governo mostra a cada instante seu despreparo, sua insensatez, seu descaso com os cidadãos de bem, seus eleitores. Os governantes de Brasília vivem em outro mundo, muito longe do Brasil real.
Nós precisamos levar o Brasil real para dentro do Congresso e dos Palácios do governo, assim como os franceses fizeram há 230 anos. Talvez assim nossos governantes criem juízo.
(*) – É economista e autor do livro ‘Às Margens do Ipiranga – a esperança em sobreviver numa sociedade desigual’. Anexos