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A indústria no Brasil em 2016

em Artigos
quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Clemente Ganz Lúcio (*)

A indústria tem enfrentado enormes adversidades desde 2014.

Na verdade, há mais de duas décadas, a valorização cambial retira capacidade competitiva da indústria nacional, o que dificulta a concorrência de nossas empresas com similares estrangeiras no mercado interno e externo. Os resultados são visíveis, com fechamento de empresas ou venda para capital internacional, extinção de milhares de postos de trabalho, perda da capacidade de inovação, de difusão tecnológica e de espraiamento da produtividade para toda a economia.

Talvez o país esteja chegando ao fundo do poço, para o qual despenca a indústria brasileira desde 2014, junto com toda a economia, em uma das mais graves recessões da nossa história. Segundo o Caged, do Ministério do Trabalho, no acumulado dos últimos 12 meses, o país terminou junho com 1.765.024 postos de trabalho formais a menos. A atividade industrial despencou -3,0%, em 2014, e -8,2%, em 2015, de acordo com o IBGE.

Contudo, se o fundo do poço tiver sido atingido, talvez os dados sobre o nível da atividade industrial no primeiro semestre deste ano, divulgados recentemente pelo IBGE, estejam a mostrar sinais bem singelos de recuperação, com a indicação de mudanças no comportamento da atividade da indústria. Os subsetores de bens intermediários e de bens de consumo semi e não-duráveis, que reúnem boa parte da produção brasileira, pararam de cair nos últimos meses.

Há acenos de melhora, como no caso de bens de capital, para a qual se observam taxas mensais positivas. Os indicadores de variações mensais positivas em cinco meses do semestre apontam mudança da perversa trajetória do setor, com crescimento de 1,3%, na comparação com dezembro de 2015. Se chegamos ao fundo do poço e conseguimos respirar, é hora de analisar a complexidade da situação, entender o que é e como é o fundo do poço (conjuntura), de que maneira se pode dele sair para a superfície (estratégia de desenvolvimento industrial de médio prazo) visando reocupar o papel decisivo da indústria no desenvolvimento econômico em todo o território (estratégia de desenvolvimento sistêmico de longo prazo).

A aposta deve ser a de que o Brasil tem plenas condições para superar mais essa crise e pode fazê-lo a partir da estruturação de um grande projeto de desenvolvimento. Para isso, é preciso ter claro o que orientará a estratégia de mobilização das forças produtivas. Vale lembrar que, no Compromisso pelo Desenvolvimento, acordo firmado a partir do diálogo social entre trabalhadores e empresários, o sentido é: retomar o crescimento, sustentando-o no longo prazo, com base no desenvolvimento produtivo, com agregação de valor e incremento da produtividade, fortalecimento do mercado interno e participação no mercado externo, geração de empregos e crescimento dos salários.

A produção econômica deve se transformar em desenvolvimento social, pela capacidade política de distribuir os resultados em termos de bem-estar social, qualidade de vida e equilíbrio ambiental. A indústria tem papel decisivo no desenvolvimento produtivo pela capacidade de difusão tecnológica e agregação de valor para todas as cadeias produtivas – produção agropecuária, setor de serviços e comércio.

No momento, a atenção deve ser para a taxa de câmbio, fator decisivo para a recuperação e sustentação da atividade industrial e de desenvolvimento. Sustentar uma posição cambial que permita às empresas competitivas participarem do mercado interno e externo é decisivo. Muitíssima atenção, mais uma vez, para a valorização cambial em curso, que poderá continuar a cavar um novo fundo do poço ao qual nossa indústria pode ser lançada. É preciso, energicamente, impedir que isso ocorra. Motivo suficiente para recuperar Compromissos.

(*) – É diretor técnico do DIEESE, e membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Grupo Reindustrialização.