Rodrigo Santucci (*)
A espera por um doador compatível de medula óssea pode levar meses, o que acaba por agravar a saúde do paciente.
Embora o Brasil tenha o terceiro maior banco de doadores do mundo, com 4,7 milhões de cadastros, precisamos de rapidez para encontrar doadores compatíveis. Quanto mais o tempo passa, mais a saúde do paciente se agrava e suas chances de recuperação começam a diminuir.
O transplante consiste na substituição da medula óssea doente por células normais de um doador compatível, para que o paciente se recupere e volte a desempenhar as suas funções adequadamente. Esse procedimento é indicado para casos de doenças do sangue, como leucemia aguda, leucemia mieloide crônica, linfomas, anemias graves, hemoglobinoplatias, imunodeficiências congênitas, mieloma múltiplo, osteopetrose e talassemia major, entre outras.
Com a visibilidade do Dia Mundial do Doador de Medula Óssea no mês de dezembro, procuramos aproveitar para reforçar a conscientização sobre a doação e, também, sobre a importância de manter seu cadastro de doador sempre atualizado. Parece uma coisa simples, mas uma grande preocupação que temos é com o cadastro de doadores. Não são raros os casos em que surge um paciente compatível, mas os dados do doador são antigos e não conseguimos mais encontrá-lo.
O processo para se tornar um doador é simples. A pessoa deve procurar um hemocentro especializado e agendar uma coleta de sangue para análise. Depois disso, é feito um cadastro do doador no REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). Nesse sentido, é fundamental que os dados estejam sempre atualizados, e o site, inclusive, permite alterar as informações, quando necessário.
Apenas quando encontramos um paciente compatível, entramos em contato com o doador para o procedimento de coleta. Esse processo pode ser feito de diversas formas, e todas são seguras e muito rápidas. Atualmente, o aperfeiçoamento de uma técnica tem beneficiado muitos pacientes com dificuldade para encontrar doadores totalmente compatíveis. O procedimento nos permite utilizar células-tronco de pessoas parcialmente compatíveis, combinadas com o uso de medicações.
A compatibilidade entre doador e paciente é definida pelo HLA (antígeno leucocitário humano), uma proteína presente na superfície dos leucócitos (glóbulos brancos do sangue). Os tipos de HLA variam de acordo com o material genético herdado pelos pais, sendo metade da mãe e a outra metade do pai.
Quando não há doadores compatíveis na família, busca-se um doador no REDOME. Contudo, o pai ou a mãe tem, necessariamente, 50% de compatibilidade com o paciente. A grande vantagem deste método é que podemos ganhar tempo, sem depender de outros doadores.
Além da queda no cadastro de novos doadores de medula óssea, os bancos de sangue também tiveram uma redução das doações. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde em junho, o número sofreu queda de 10% em todo o país, tendo como principal causa a pandemia de Covid-19.
Vale frisar que uma bolsa de sangue pode salvar a vida de até quatro pessoas. A doação é um procedimento totalmente seguro, pois o organismo repõe muito rapidamente a quantidade doada, além de serem utilizados apenas materiais descartáveis e a bolsa de sangue testada para HIV, hepatites B e C, chagas, sífilis e outras doenças.
Diante de tudo isso, precisamos reunir esforços para continuar promovendo o engajamento da população nesta causa tão nobre. Ser um doador de sangue e de medula é um ato de amor ao próximo!
(*) – É hematologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo e diretor de Relações Institucionais do Hemocentro São Lucas, que atende a Instituição.