Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
O que acontece no Brasil também acontece no mundo. No entanto, aqui a situação é mais sensível ainda porque sempre estivemos por baixo, sem que a elite dirigente se dispusesse a governar com justiça e seriedade.
Cresce a insatisfação com a precarização geral. O Brasil vive o apocalipse econômico porque os governantes não administraram os recursos de forma competente, pois o país está endividado e falta tudo, a começar pela saúde, educação e saneamento. As obras tiveram preços bem superiores aos aceitáveis. Os encargos financeiros sufocam. Lamentável que tenha chegado ao extremo de, para conter a desfaçatez nos gastos, ser necessária uma PEC do teto.
Se desde sempre os gestores tivessem pautado os gastos com parcimônia, de forma cuidadosa e eficiente, respeitando os limites das receitas, estaríamos muito à frente, sem dívidas e com estabilidade. Orçamentos são elaborados, pois o papel tudo aceita, mas no final as dívidas e despesas financeiras aumentam. Não basta o controle das contas internas; para ser bem-sucedido o Brasil precisa organizar e equilibrar também as contas externas. O descontrole leva ao atraso e caos.
Fala-se em educar crianças para as finanças, mas os gestores públicos têm sido irresponsáveis na administração do erário. É preciso exigir eficiência nos gastos da união, estados e municípios. O projeto da PEC deriva da necessidade de gerar sobras, pois se continuar de forma deficitária o país corre o risco de cair no endividamento incontrolável e no consequente desgoverno. O Brasil tem de sair do marasmo e ser uma pátria de seres humanos livres. Até agora estamos em grande atraso.
No caso do Haiti, a situação já era caótica antes mesmo de o país ser atingido por terremoto e furacão, devido ao desgoverno secular a que vem sendo submetido e que descuidou do preparo da população desesperançada, que não percebe bom futuro pela frente. Falta tudo, a começar pela alimentação. O Haiti surgiu como um produtor escravagista para a Europa.
Em 1804 declarou independência e concordou em assinar um tratado pelo qual pagaria à França a quantia de 150 milhões de francos a título de indenização. A dívida foi reduzida para 90 milhões, mas exauriu a economia do país. Tropas dos Estados Unidos ocuparam o Haiti entre 1915 e 1934 para proteger os interesses norte-americanos no país. O ditador Papa Doc, apoiado pelos Estados Unidos, aterrorizou a população. Caos, decadência e degradação. Sem liberdade plena, o povo se fragilizou, ficando sem chances de evoluir.
Quanto ao Brasil, é preciso cautela e atenção para não cair nessa rota destrutiva que acaba com o país. Governo e empresários precisam se encontrar para pôr a produção e o comércio em movimento através de empregos, educação e saúde, e organizar o equilíbrio das contas externas, juros e câmbio. O nosso desenvolvimento está congelado desde os anos 1980 devido à crise da dívida externa.
Até agora o equilíbrio não foi restabelecido. Enquanto os gastos e as dívidas aumentavam, a educação foi piorando, as indústrias perdendo força. Estamos com poucas atividades remuneradas para jovens e adultos. O país se acha em dormência por falta de estadistas sérios.
Na verdade, o mundo todo vive uma fase de acontecimentos inesperados que escapam ao controle. São os chamados “cisnes negros” que representam a colheita do que foi semeado pela humanidade. No fundo são as ameaças decorrentes da superpopulação e seu rápido crescimento, e a decadência progressiva do materialismo, de esquerda ou direita, sem visão mais elevada, que vai deixando as novas gerações resvalarem para as sombras da vida vazia de propósitos e felicidade.
Como preparar os jovens para que surjam seres humanos de qualidade, espiritualmente fortes e responsáveis, benéficos a si mesmos e ao planeta?
(*) – É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Coordena os sites (www.library.com.br) e (www.vidaeaprendizado.com.br). Autor dos livros: Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; OHomem Sábio e os Jovens, entre outros ([email protected]).