Fábio de Salles Meirelles afirma que é preciso ouvir autoridades, setor produtivo e entidades antes de tomar atitudes precipitadas
A suspensão da importação de carne de frigoríficos do Brasil, por suposta relação com desmatamento, foi um ato precipitado e arbitrário tomado pelas empresas supermercadistas da Europa, que deveriam ouvir prioritariamente o setor produtivo e as autoridades constituídas brasileiras. A avaliação é do presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (FAESP), Fábio de Salles Meirelles. “Foi uma decisão unilateral, baseada em ilações, sem levar em conta, de fato, quem realmente atua na pecuária em áreas de desmatamento” diz o presidente da FAESP.
O anúncio da suspensão da compra de carne com origem do Brasil ou produtos de carne ligados à brasileira JBS foi feito pelo grupo holandês Ahold Delhaize (que inclui as marcas Delhaize e Albert Heijn), a também holandesa Lidi Netherlands (que pertence ao grupo alemão Lidl), a belga Carrefour Belgium (subsidiária do grupo francês do mesmo nome), a francesa Auchan e as britânicas Sainsbury’s e Princes Group.
Os boicotes foram anunciados após uma acusação das ONGS Repórter Brasil e Mighty Earth de que a brasileira JBS compra reses criadas em áreas desmatadas, o que foi refutado pela empresa.
“Este tipo de denúncia deve ser devidamente investigada para saber qual a real situação. Além das empresas, existem diversas autoridades reguladoras e fiscalizadores e entidades representativas, como a FAESP, que poderiam fornecer informações mais precisas. A suspensão pura e simples não é uma boa solução para nenhuma das partes”, diz Meirelles. “Mesmo porque se a denúncia não for apurada corretamente, pode parecer um protecionismo disfarçado”, complementa o presidente.
Meirelles lembra que a imensa maioria dos pecuaristas brasileiros atua dentro de práticas sustentáveis, tanto que o Brasil é um grande player exportador mundial. “Não é justo que, com base em denúncias não completamente apuradas, todo um setor seja punido, prejudicando inclusive a pauta de exportações do Brasil”, diz o presidente.
“A FAESP, ao lado de outras entidades, vai procurar estas empresas para protestar contra o boicote e oferecemos todo o suporte para o setor da pecuária, que tem uma grande importância para a economia brasileira, empregando milhares de pessoas”, ressalta Meirelles.
Meirelles destaca que boicotar todo um setor produtivo não é uma política justa e coerente. “Imagina se os consumidores brasileiros resolvessem boicotar uma rede supermercadista apenas porque seu controle acionário está no Europa”, compara o presidente.
O presidente lembra que o Brasil tem sido alvo de medidas arbitrárias de boicote, com base em fatos nem sempre comprovados, e que a a FAESP está ao lado dos produtores que atuam completamente dentro da Lei. “Foi o que ocorreu no caso do embargo dos embarques de carne por parte da China. Desde o início, pedimos às autoridades brasileiras mais esforços diplomáticos para resolver a questão. O pleito da FAESP foi atendido, mas continuamos engajados em defender os produtores que atuam de forma eficiente e legal”, finaliza Meirelles.