Valter Casarin (*)
A população mundial cresce em ritmo frenético, podendo atingir 10 bilhões de pessoas em 2050.
E para alimentar o planeta, a agricultura não terá escolha a não ser acompanhar esse desenvolvimento. Nesse cenário, será preciso aumentar a produção de alimentos, que deverá vir em sua maioria das terras agrícolas existentes, muitas das quais já degradadas, com significativa perda de seu conteúdo nutricional.
Por esse motivo, os fertilizantes são essenciais para garantir a qualidade e o volume de alimento diante da necessidade futura. No entanto, as recentes crises mundiais têm afetado o preço e a disponibilidade desse insumo, o que pode influenciar na produção de alimentos e na segurança alimentar mundial. Essa situação exigirá o compromisso dos produtores agrícolas em aumentar essa escala, bem como deverão estar engajados nesse propósito, respeitando o meio ambiente.
Com isso, a procura por alternativas de produtos e manejos se faz necessária. E entre as opções está o biofertilizante. Mas o que é? Do que é feito e quais são os seus benefícios? Biofertilizante é um adubo orgânico que contém microrganismos vivos, que contribuem para melhorar o crescimento das plantas, otimizando as funções do solo e sua fertilidade.
De modo geral, para garantir seu pleno desenvolvimento, as plantas necessitam de luz, água, dióxido de carbono (CO2), oxigênio (O2) e nutrientes. Graças ao sistema radicular, os vegetais conseguem extrair os recursos minerais armazenados no solo, a fim de permitir sua nutrição. Entretanto, esse “reservatório de nutrientes” é um ecossistema muito mais complexo, que não desempenha apenas esse papel.
Embora tenha uma boa reserva de nutrientes, uma fração dessas substâncias utilizadas para alimentar a planta pode ser perdida ou imobilizada, portanto se torna indisponível às plantas. E é a partir daí que os microrganismos do solo entram em ação. Eles participam de mecanismos que melhoram a biodisponibilidade de nutrientes, promovendo, assim, o desenvolvimento dos vegetais.
E é nesse sentido que os biofertilizantes atuam, sobretudo nas reservas de nutrientes imobilizados no solo ou na atmosfera. Os tipos desse adubo podem ser diferenciados em função dos microrganismos que os compõem. Atualmente, os que possuem as propriedades mais interessantes para uso agrícola são: as bactérias fixadoras de nitrogênio, como o próprio nome sugere, que têm a função de capturar o nitrogênio presente no solo e no ar; as bactérias solubilizadoras de fósforo, que permitem solubilizar o fósforo presente no solo, ou seja, transformá-lo em uma forma solúvel e biodisponível para a planta; e os fungos micorrízicos, que têm a particularidade de estar em simbiose com as raízes.
Os biofertilizantes contribuem para a nutrição das plantas através de diferentes mecanismos, melhorando a: assimilação de elementos minerais (nitrogênio, fósforo, micronutrientes etc.), absorção de água, produção de fitohormônios, resistência ao estresse etc. Essas diferentes ações permitem que o vegetal tenha maior poder produtivo. A sua utilização permite aproveitar melhor as formas de nutrientes não disponíveis para as plantas, constituindo uma alternativa parcial ao uso de fertilizantes minerais.
Nas últimas décadas, as técnicas de manejo do solo visaram a melhoria das propriedades físico-químicas dos solos. Diante dos atuais desafios da produtividade agrícola, o interesse do funcionamento biológico tornou-se fundamental para a eficiência do processo produtivo. O funcionamento biológico do solo tem a função de melhorar as condições de escassez e custo dos insumos, respeito ao meio ambiente, mudanças climáticas entre outros benefícios.
O solo, por sua vez, é um material vivo composto por um grande número de microrganismos que possuem diferentes funções e interesses. Apoiar este elemento é, portanto, essencial para que as práticas agrícolas não alterem o funcionamento e a multiplicidade de recursos que oferece a nossa agricultura.
A ideia de uso dos biofertilizantes é buscar inspiração na natureza para recriar um equilíbrio favorável ao desenvolvimento das plantas. Valorizar a microflora benéfica, ou seja, os microrganismos presentes no solo, significa valorizá-lo e assim mantê-lo vivo.
Os biofertilizantes são soluções naturais que permitem obter o equilíbrio do solo, com o objetivo de melhorar as culturas de forma sustentável. No entanto, eles não têm a capacidade de substituir completamente o uso de fertilizantes minerais, mas sim de complementar o seu uso.
(*) É Coordenador Científico da NPV.