Cristiano Pinchetti (*)
País deve se preparar para assumir protagonismo na produção global de alimentos com mais sustentabilidade
Com tecnologia, Brasil pode aumentar a produção sem crescer em área plantada, com mais lucratividade e benefícios a produtores, sociedade e meio ambiente.
Com a conclusão, em dezembro, de mais um encontro anual da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-28) – e já se preparando para sediar o encontro no próximo ano -, o Brasil adentrou 2024 com extensa lista de aspirações e afazeres cruciais no cenário agrícola. Diante das metas globais de sustentabilidade delineadas durante as intensas discussões, é evidente que a agricultura brasileira precisa se adaptar e inovar para assumir o protagonismo que almeja – e que tem plenas condições de alcançar. Enfrentar desafios como a redução das emissões de carbono, a preservação da biodiversidade e o manejo sustentável dos recursos naturais tornou-se imperativo. Neste contexto, torna-se crucial uma abordagem proativa, com investimentos e fomento ao acesso a tecnologias e práticas que não atendam apenas às expectativas internacionais, mas também posicionem o Brasil como um líder na produção global de alimentos sustentáveis.
Em todo o mundo, mercados estabelecem critérios mais rigorosos à importação de alimentos, ao mesmo tempo em que consumidores se posicionam cada vez mais interessados em transparência e proteção em relação aos produtos que consomem. E eles estão dispostos a pagar um prêmio por produtos mais seguros e oriundos de uma agricultura de baixo impacto ambiental e forte apelo social. Neste cenário, o grande estímulo que o Brasil e as empresas que atuam no segmento agro podem dar à agenda ambiental será baseado em soluções atreladas a uma melhor rentabilidade ao produtor com a adoção de práticas mais sustentáveis.
A sustentabilidade na agricultura não é mais uma opção – é uma necessidade. Em um mundo com recursos escassos e uma população que continua a crescer, é imperativo que desenvolvamos novas maneiras de cultivar alimentos de maneira eficiente, responsável e – importante destacar – lucrativa. Podemos, sim, aumentar a produção sem ampliar o tamanho da área plantada, como já temos feito, além disso com mais rentabilidade e beneficiando produtores, sociedade e meio ambiente.
O avanço da biotecnologia traz ao campo insumos biológicos de alta performance, com grandes benefícios adicionais em defesa e nutrição das lavouras, além de saúde e fertilidade dos solos. Ano a ano, a adoção destes produtos cresce em ritmo mais acelerado do que o mercado de insumos químicos tradicionais, revolucionando a forma como cultivamos e tornando as plantas mais saudáveis e resistentes a variações climáticas, doenças e pragas.
O desenvolvimento de defensivos biológicos com alta tecnologia de formulação puxou um crescimento de 75% desse mercado no país nos últimos dois anos, saltando de um faturamento de R$ 946 milhões em 2019 para R$ 1,79 bi em 2021, segundo a consultoria Blink. E de acordo com estudo da IHS Markit, a projeção é que em 2030 o setor alcance R$ 16,9 bilhões.
Aliada aos bioestimulantes e biofertilizantes, a bioinformática e tecnologia da informação ampliam ainda mais o crescimento sustentável no campo. Através de sistemas de gestão inteligente, monitoramento remoto e análise de dados, por exemplo, podemos também alcançar eficiência nos processos, reduzindo desperdícios e otimizando recursos. A experiência já prova que podemos nos destacar com uma agricultura de maior rendimento, com menos insumos químicos, melhor qualidade dos biomas, aproveitamento de água e real contribuição ambiental.
É preciso destacar, novamente, que todos estes avanços necessários só encontrarão solo fértil se, de fato, representarem maior rentabilidade aos agricultores, reconhecendo o papel crucial que desempenham na manutenção de um planeta saudável. O pilar econômico precisa ser robusto para que o ambiental e o social se mantenham igualmente firmes.
A perspectiva de um mercado latente em torno dos créditos de carbono abre também uma nova dimensão para investimentos em uma produção agrícola pautada pelo meio ambiente. E não estamos aqui falando em transformar lavouras em florestas para gerar créditos de carbono, mas em oferecer meios para que o produtor seja incentivado e remunerado por uma produção agrícola que se destaque no mercado através da diferenciação, rastreabilidade, substituindo um portfólio de commodities por produtos de valor agregado que reflitam um compromisso real com a sustentabilidade.
Para alcançar todas aquelas metas lembradas na COP-28, e atingir assim o protagonismo que almeja, o Brasil precisará contar com um esforço conjunto. Desde os produtores aos consumidores, todos teremos um papel a desempenhar. Ao tornar a cadeia de produção mais transparente e ao garantir que os produtores sejam justamente remunerados, podemos incentivar práticas mais sustentáveis. Estamos convencidos de que a sustentabilidade é um valor imprescindível para a agricultura e estamos empolgados com as oportunidades que isso representa.
(*) Administrador formado na FAAP, com pós-graduação na FEA-USP. Sua carreira inclui passagens por Citibank e Monsanto. Com vivência profissional no Brasil, Europa e EUA, Pinchetti desenvolveu robustez em gestão financeira em cenários de crise, como na Nextel. Na companhia alemã Helm, adquiriu perspectiva única sobre empresas familiares de capital fechado. Chegou à Indigo como CFO Latam e hoje atua como CEO Brasil e Latam.