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Biológicos: Liderança sustentável

em Agronegócio
terça-feira, 03 de setembro de 2024

Reinaldo Bonnecarrere (*)

Os produtos biológicos já são uma realidade consolidada para proteção de cultivos, fertilidade do solo, promoção do crescimento das plantas, bem como para melhorar a adaptação das lavouras às mudanças climáticas, em especial no que diz respeito ao aumento de temperatura. Vamos dar uma olhada em alguns números para comprovar.

Em 2023, o mercado de bioinsumos no Brasil foi calculado em mais de R$ 6 bilhões, com cerca de 80% desse valor sendo da categoria de biodefensivos e outros 20% de bioinoculantes, indicam números da Associação Nacional de Promoção e Inovação da Indústria de Biológicos (ANPII Bio).

O segmento no Brasil tem uma previsão de crescimento anual de 16,6% em área tratada até a safra 2027/28, representando o maior avanço dentro do setor de insumos agrícolas, aponta levantamento da CropLife Brasil. De acordo com esta mesma pesquisa, a taxa média anual de crescimento do mercado brasileiro nos últimos 3 anos foi de 21%, quatro vezes acima da média global. Mundialmente, o segmento registrou incremento entre US$ 13 e 15 bilhões em 2023, e tem expectativa de avanço entre 13% a 14% até 2032, devendo chegar a US$ 45 bilhões em giro de negócios no período.

Esses dados comprovam que o Brasil é um dos grandes protagonistas mundiais no segmento. Uma parte relevante dos produtores utiliza biológicos em seus cultivos, e o país é um dos poucos a adotá-los em culturas de natureza extensiva como soja e milho.

Os produtos biológicos são, em grande parte, tecnologias desenvolvidas a partir de microrganismos vivos para combater pragas e doenças no campo, promover o crescimento das plantas e melhorar a fertilidade do solo. Eles funcionam aproveitando a interação natural entre esses organismos. Essa abordagem é respaldada pela ciência e tem como uma de suas vantagens preservar melhor o equilíbrio ecológico por meio de um manejo integrado em parceria com insumos convencionais.

Muitas dessas soluções acentuam a atividade metabólica das plantas, levando a uma maior e melhor absorção e fluxo dos nutrientes; fortalecem a estrutura fisiológica, elevando a resistência dos cultivos a condições adversas do clima; além, claro, de contribuírem de sobremaneira para o aumento da matéria orgânica e consequente fertilidade do solo.

Razões do avanço
O tradicional uso exclusivo de produtos químicos para proteger as lavouras tem levado ao aumento da resistência de pragas e doenças. Além disso, o uso sem critérios pode causar danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas.

Com essa nova perspectiva, o uso de produtos biológicos tem se expandido não apenas por garantir eficácia na proteção dos cultivos, ao mesmo tempo que mitiga efeitos colaterais dos químicos, mas também por promover melhorias na saúde do solo e das plantas, e assim, consequentemente, funcionarem também como indutores de maior produtividade.

Os produtos biológicos acentuam, por exemplo, a promoção da biodiversidade, incidem somente sobre o alvo – preservando o equilíbrio da fauna –, apresentam ação mais prolongada e, lá no início da sua cadeia produtiva, exigem menor uso de insumos para sua fabricação, bem como não derivam de fontes fósseis. E é justamente este último ponto, associado à característica natural de serem originários de fontes naturais, que dão aos biológicos a vantagem de contribuírem para uma agricultura cada vez mais sustentável.

Peça-chave do manejo
O uso de produtos biológicos já é uma realidade concreta, promissora e sustentável. Seus benefícios ambientais, assim como suas respectivas entregas na esfera econômica e relacionadas à saúde, posicionam os biológicos como peça-chave do manejo sanitário das lavouras e para o desenvolvimento de sistemas agrícolas mais resilientes, produtivos e ecologicamente equilibrados diante do contínuo aumento da temperatura global.

Dados da FAO e OCDE apontam que a oferta mundial de alimentos precisa aumentar em cerca de 20% nos próximos dez anos. Para que esta meta seja atingida, o Brasil deve contribuir com 40% deste crescimento.

Este desafio foi posto naturalmente ao Brasil exatamente pelo fato de que o modelo de agricultura tropical desenvolvido aqui no nosso país é o único capaz de elevar a produção por meio de ganhos de rendimento e em acordo com a proteção ambiental e as mudanças climáticas.

Foi a ciência desenvolvida não só pela Embrapa, mas nas universidades, institutos públicos, assim como também no setor privado nacional, a fiadora para o sucesso do agro brasileiro. Com base neste raciocínio, a continuidade da pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos e técnicas prometem expandir ainda mais as possibilidades e a eficácia do controle biológico, contribuindo para uma agricultura mais sustentável e segura.

(*) Engenheiro florestal, gerente de economia da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).