Gustavo Defendi (*)
A inclusão de produtos regionais nas cestas básicas é um tema que considero fundamental para combater a fome e promover uma alimentação mais saudável e culturalmente adequada às comunidades do nosso país. Há mais de 20 anos, à frente da Real Cestas, venho observando a importância de valorizar as especificidades regionais de cada região. Não se trata apenas de entregar alimentos, mas de entender e respeitar as necessidades nutricionais e fortalecer a economia local, gerando impacto positivo tanto para os beneficiários quanto para os pequenos produtores.
Incluir alimentos regionais nas cestas básicas vai muito além da nutrição. É uma forma de valorizar a cultura alimentar de cada comunidade. Produtos como o feijão de corda no Nordeste ou a mandioca no Norte não são apenas alimentos típicos, mas fazem parte da identidade dessas regiões. São alimentos ricos em nutrientes, e que, por serem familiares às pessoas, têm uma aceitação muito maior. Isso se traduz em uma alimentação mais equilibrada e relevante.
Defendo que essa prática também traz benefícios econômicos claros porque quando escolhemos produtos de pequenos produtores locais nas cestas, incentivamos o desenvolvimento dessas regiões. Isso gera empregos, fortalece a agricultura familiar e movimenta a economia local.
Para a Real Cestas, por exemplo, que tem uma longa história de distribuição em diversas regiões do Brasil, essa prática se traduz em um compromisso com a sustentabilidade e com a qualidade de vida das famílias atendidas.
No entanto, algo que me preocupa é a ausência de itens regionais na cesta básica nacional na Reforma Tributária. Para garantir que as cestas atendam às necessidades da população, acredito que a inclusão desses produtos deveria ser prioritária. Produtos regionais e fontes de proteínas, por exemplo, precisam estar na lista de itens com alíquota zero no novo Imposto sobre o Valor Agregado (IVA). Isso vai garantir que as cestas básicas atendam às necessidades nutricionais e culturais de todas as regiões.
O que corrobora isso é a interpretação do texto constitucional, que dispõe sobre a composição da cesta básica de alimentos, considerando que ela deve ser saudável, nutritiva e regional. Nesse contexto, produtos como o açaí, a tapioca e o cuscuz, por exemplo, são essenciais para atender esses requisitos e devem ser observados na forma como os impostos são cobrados ou administrados pelo governo.
Outro ponto que destaco é evitar a padronização excessiva das cestas básicas. Uma cesta básica que respeita os hábitos alimentares locais tem maior flexibilidade, já que as famílias recebem alimentos que fazem parte do seu dia a dia, o que diminui o desperdício e aumenta a aceitação dos produtos. Isso garante que os alimentos sejam mais bem aproveitados, atendendo tanto às necessidades nutricionais quanto às culturais, tornando uma cesta básica mais eficiente e adaptada à realidade de cada comunidade.
Acredito que, ao respeitarmos as particularidades de cada região e valorizarmos os pequenos produtores, podemos criar um impacto duradouro e positivo, tanto na qualidade de vida das famílias atendidas quanto no desenvolvimento das economias locais.
Esta é a minha visão sobre o futuro das cestas básicas para as famílias, com foco na valorização da economia local e novas soluções logísticas, com um acesso mais amplo e inclusivo desses produtores em todas as regiões do Brasil.
(*) Sócio-diretor da Real Cestas, empresa que atua há mais de 20 anos no mercado de cestas básicas.