Renata Bento (*)
Podemos pensar que tanto a ansiedade como a depressão são considerados o mal da atualidade.
O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. Estamos vivendo num período de muitas mudanças e transformações que todo tempo exigem um poder de adequação e organização mental interna imensas.
A ansiedade pode se apresentar através de vários sintomas físicos como: taquicardia, sudorese, dor no peito, respiração ofegante, palpitação, etc. E sintomas emocionais: nervosismo, dificuldade de concentração, medo constante, isolamento social, entre outros. Em algumas situações pode prejudicar o indivíduo levando-o a se afastar do trabalho; principalmente se a capacidade de pensar estiver muito comprometida a ponto de a pessoa perder sua possibilidade de ir e vir, ou seja, ter sua mente atacada de tal forma que a paralise não só emocionalmente como fisicamente.
Nosso inconsciente é responsável por armazenar toda nossa vida, aquelas situações que não lembramos e as que foram traumáticas. E é natural que questões que nem nos recordamos, mas que não foram elaboradas retornem e se revelem em forma de sintomas de ansiedade ainda que acionados por fatores externos (crise no país, política, guerras, separação conjugal, etc).
As situações externas acionam nosso inconsciente e mecanismos de defesas internos que precisam dar conta todo tempo de situações adversas internas e externas. É preciso estrutura mental estável e coesa para lidar com uma série de situações diárias que vivemos e que nosso país vem enfrentando nos últimos anos; isso abala a confiança e a segurança no ambiente em que se vive fazendo (re)-visitar diariamente a capacidade criativa de se transformar frente às adversidades.
A ansiedade é algo natural em qualquer etapa da vida e todos nós experimentamos em algum momento. Podemos dizer que é uma espécie de alarme que soa internamente como resposta do nosso inconsciente diante de conflitos internos ligados ao dia a dia e a relação com o ambiente; pode ser disparado frente a uma ameaça ou situação traumática, um perigo real ou imaginário que pode produzir medo e até paralisação.
Quando patológica a ansiedade se caracteriza por um tempo de duração e intensidade maior do que o esperado para tal situação externa, ou seja, uma reação observada como exagerada, mas não percebida pelo sujeito como tal. A pessoa entra em sofrimento e sua capacidade de pensar fica seriamente comprometida. O segredo é continuar pensando durante a tempestade. Pensar é algo extremamente sofisticado, embora não pareça.
O autoconhecimento é uma ferramenta indispensável para se ampliar a capacidade de pensar, investigar e compreender o que está ocorrendo no mundo interno e descobrir o que está causando estes sintomas emocionais e até físicos. Trocando em miúdos, é buscar entender qual é o ‘botão’ que foi acionado e que se revelou nesse ou naquele sintoma.
Com o autoconhecimento será capaz de se descobrir mais a seu respeito, descobrir do que se gosta, buscar ter flexibilidade, não exagerar nas autocriticas e cobranças; ser capaz de definir prioridades em sua vida; valorizar as pequenas conquistas, valorizar as relações; escolher melhor seus relacionamentos.
Quanto mais a pessoa descobre sobre seu mundo interno, seus medos, desesperos e angustias mais recursos são liberados para lidar com as pressões externas.
(*) – É Psicóloga, especialista em criança, adolescente e família. Psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise-RJ. Perita em Vara de Família e assistente técnica em processos judiciais, é filiada a Internacional Psychoanalytical Association, a Federación Psicoanalítica de América Latina e a Federação Brasileira de Psicanálise.