Tania Fontolan (*)
A versão final da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE), será referência nacional obrigatória para escolas públicas e privadas.
A preocupação em desenvolver habilidades como resiliência, empatia e responsabilidade estão presentes no texto das 10 competências básicas propostas pela BNCC, 3 são de ordem socioemocional. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional; ter capacidade para lidar com as emoções; exercitar a empatia, o diálogo e aprender a resolver conflitos; agir com resiliência, determinação e autonomia serão em breve competências a serem trabalhadas dentro da sala de aula.
É o que diz o texto divulgado pelo MEC e é o que as instituições de ensino brasileiras deverão cada vez mais se atentar. Incluir essas habilidades como disciplina obrigatória já é realidade em países referência em educação, como Singapura, Coreia do Sul, Canadá e Finlândia. No Brasil, a inclusão das chamadas competências do século XXI são um avanço importante que trará impactos sociais, com benefícios comportamentais para alunos e famílias, e educacionais.
Nos próximos anos, avaliações nacionais, como o ENEM e outras ligadas ao Ensino Fundamental, passarão a considerar aquelas competências na mensuração da qualidade da formação oferecida. Nesse sentido, já foram dados os primeiros passos no Brasil. Um programa desenvolvido por um grupo de educadores com base no Casel, principal centro de estudos da aprendizagem socioemocional do mundo, o Programa Semente, está sendo utilizado por cerca de 20 mil estudantes brasileiros.
O Casel reuniu em 2011 diversos pesquisadores ao redor do mundo para avaliar o impacto de programas de habilidades socioemocionais na vida de 270 mil estudantes. Os resultados de boas práticas incidiram não só na diminuição da possibilidade de surgimento de transtornos psiquiátricos, como também, na melhora em média de 11% no desempenho acadêmico. De forma estruturada, o programa trabalha os cinco domínios: autoconhecimento, autocontrole, empatia, tomada de decisões responsáveis e habilidades sociais.
Com iniciativas como essa e a inclusão das habilidades socioemocionais na BNCC, o Brasil se alinha a práticas de formação integral, comprovadas em nível mundial. O documento orienta as escolas para focarem naquilo que elas têm de insubstituível: a educação do indivíduo para que conheça melhor a si mesmo e interaja da melhor maneira em sociedade.
É importante lembrar que, na família, esse aprendizado de convivência social fica comprometido pelos próprios limites da unidade familiar. É na escola que o aluno começa a lidar com regras impessoais, adentra regularmente ao mundo público, conhece pessoas de formação diferente e adquire ferramentas para conjugar todos esses elementos pessoais e sociais.
Os pais e as escolas precisam incorporar que as emoções importam. Do mesmo jeito que ensinamos as crianças a nadar e andar de bicicleta, devemos ensiná-las a lidar com suas emoções. E o MEC acaba de dar um importante passo nesse sentido.
(*) – É diretora geral do Programa Semente (www.programasemente.com.br)