Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
Como explicar a demora em dar uma arrancada na economia carente?
Em países como o Brasil não há poupança; a baixa renda média é direcionada para o consumo. O investimento é pífio, pois não há interesse maior e o dinheiro excedente, assim como os capitais flutuantes, após o desfrute do diferencial da taxa de juro interno e externo, acaba sendo remetido para o exterior em vez de permanecer no ciclo produtivo. É a nova sangria que pereniza a crise.
A liquidez global criou duas esferas: a da economia real, que deveria ser a fundamental, e a das finanças, que se move em vida independente, distante dos problemas e fins da própria humanidade. Catástrofes da natureza e econômicas nos afligem. Com a aceleração geral, estamos perdendo a capacidade de refletir e analisar a vida e os acontecimentos.
No início do século passado houve um movimento para fortalecer o Estado como meio de suprir os déficits de capital e promover o desenvolvimento. A classe política se foi aboletando na força do poder político, mas paulatinamente o Estado foi perdendo o poder econômico. Quem deveria ser forte é a população bem preparada para a vida, pois assim os indivíduos seriam autônomos, sabendo que em primeira linha dependem de si mesmos, de seus esforços, e não de um Estado paternalista que amolece a fibra individual.
Ao completar sessenta anos da comunidade europeia, a tradicional Europa deveria estar na frente, mas se tornou um centro de propagação de cobiças e enfrenta as fissuras das escolhas dos indivíduos. Algo muito complicado se formou nesses anos de globalização e simultânea fragilização do Estado e dos cidadãos. O sistema foi sendo gerado de improvisos, sem olhar para o futuro visando os interesses imediatistas. A disparidade de custos de produção entre Kuala Lampur, Malásia e Estados Unidos acaba gerando uma situação inusitada de precarização que não era alvo da ciência econômica.
As regiões atrasadas que deveriam ter evoluído há mais tempo, agora provocam uma confusão salarial geral atraindo a precarização imposta por diferentes estruturas de remuneração da mão de obra. Dessa forma, em breve o caos será generalizado, e tudo que a humanidade esperava construir de qualidade de vida poderá cair por terra.
O alvo da civilização deveria ser a busca da continuada melhora das condições gerais de vida, como ideal a ser perseguido pela humanidade, desde o bom preparo das novas gerações, até os cuidados com a preservação da sustentabilidade ambiental. Nisso todos deveriam estar cooperando: governo, empresas, universidades e população em geral.
O mundo se acha diante de ótima oportunidade para refletir. O poder econômico na mão do Estado acaba solapando a liberdade, a responsabilidade e o discernimento próprio. Os homens do governo acabam se colocando como os donos da verdade e fazem o que querem para segurar o poder, se tornando, por fim, tiranos. Os homens das empresas também se sentem atraídos pelo poder agindo de forma a manter a população subordinada enquanto decidem de acordo com o que acham que seja o melhor.
Como equilibrar esse embate e promover o progresso com liberdade e responsabilidade, pois com o aumento da população acaba surgindo mais desigualdade? As novas gerações precisam querer ardentemente alcançar a melhora geral, e diante da concorrência global, que as empresas tenham condição de produzir, criar empregos e distribuir renda.
Diante das limitações adversas impostas pelos interesses econômicos globais, falta ao Estado vontade e empenho para criar as condições para solucionar as questões básicas que atravancam o dinamismo da economia e a melhora geral, mantendo a humanidade estagnada.
(*) – Graduado pela FEA/USP, faz parte do Conselho de Administração do Prodigy Berrini Grand Hotel e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). E-mail: ([email protected]).