Heródoto Barbeiro (*)
O imperador deu o pontapé inicial em 1855. Não era uma partida de football patrocinada pelos comerciantes ingleses do Rio de Janeiro. Nem tinha o aval do mal humorado embaixador britânico que insistia em acabar com a escravidão negra no Brasil
Afinal já tinha conseguido, pelo menos teoricamente, proibir o tráfico. Dom Pedro II inaugurou a construção de uma estrada de ferro que sairia da capital do império em direção ao Vale do Paraíba. Na serra do Mar se dividiria em dois ramais: um atrás do café que era plantado na direção de Minas Gerais e outro em direção a capital da província de São Paulo.
Onde o café vai o trem vai atrás.
Era o segundo caminho de ferro do império, e obviamente havia interesse dos capitais ingleses em não só financiar o empreendimento, mas de vender todo o material, dos trilhos às locomotivas a vapor, as carinhosas “marias fumaças.” Era a arrancada para que o agro negócio, desculpe, os fazendeiros de café pudessem ter acesso aos portos e inundar a Europa e os Estados Unidos com a preciosa rubiácea… ops.
Hoje ainda se sonha com a implantação de novas ferrovias no Brasil, como a Transnordestina. Para isso, o governo tem que decretar. De acordo com o decreto, a companhia teria um prazo de exploração limitado a noventa anos e o governo ofereceria vantagens diversas, como o direito de desapropriação de terrenos particulares e de receber terrenos devolutos do Estado para a construção de ferrovias, armazéns e estações.
O governo concederia ainda madeira e outros materiais dos terrenos devolutos para a construção de caminhos de ferro, isentaria a companhia do pagamento de direitos sobre a importação de trilhos, carvão, máquinas e equipamentos e garantiria juros de cinco por cento sobre o capital empregado na obra, dentre outros benefícios. Novo engano, este decreto foi assinado pelo imperador e dizia respeito à estrada de ferro do Vale do Paraíba.
Dez anos depois a construção parou na Serra do Mar e o governo encampou tudo, especialmente o prejuízo. Dom Pedro II foi derrubado a estrada mudou de nome e só então houve uma ligação regular entre São Paulo e Rio. Em 1847, dom Pedro II decretou a construção da Transnordestina. Como o império caiu, sobrou para a república por á frente obra que seria a redenção econômica do nordeste. Em 2006 começou a construção 159 anos depois para ficar pronta em… 2010.
Como nos tempos do império a obra parou. Não tem dinheiro mesmo com uma boa parte da grana ter vindo dos cofres públicos. Entalou na garganta da Companhia Siderúrgica Nacional . Começou a um custo de 4 bi e meio. Subiu para 5 bi e 400 e segundo as últimas cartomantes e jogadores de búzios consultados vai chegar a 11 bilhões de reais. Para sair da estação o trem precisa imediatamente de 3 bilhões.
Os empresários alegam que não tem esse dinheiro para investir. Tudo se deteriora na estrada, trilhos, locomotivas, vagões, fábricas de dormentes… Para um pais rico, abençoado por Deus e bonito por natureza, só tem uma saída: ressuscitar o velhinho e encapar tudo, especialmente o prejuízo.
Heródoto Barbeiro é ãncora do Jornal da Record News e do Blog do Barbeiro no R7 ([email protected])