Christian Moreira (*)
Em 1940, os estúdios Disney “homenagearam” o Brasil com um personagem destinado ao público infantil, que acompanharia o Pato Donald em sua viagem para o país, criando assim o Zé Carioca.
Dentre muitas características, a que mais chamava a atenção, como traço identificador da brasilidade do Zé, era a sua malandragem explicitada na forma com que escapava das situações, sempre dando um “jeitinho”. Assim o mundo tomou conhecimento do “jeitinho brasileiro”, forma pela qual têm sido resolvidas as demandas em nossa nação há séculos.
Esse jeitinho a que me refiro não consiste na capacidade inventiva de alguns em encontrar soluções inovadoras e extraordinárias, quase sempre de baixo custo, para problemas da vida concreta. Tratamos aqui das práticas furtivas à margem da legalidade, na quebra das regras, a fim de atender as demandas de outrem em virtude de algum benefício próprio. Em outras palavras, o jeitinho é uma ação corruptora e corruptível.
A palavra “corrupção” vem do latim corrumpere, e significa “destruir, estragar”, sendo a união de com, intensificativo, mais rumpere, “quebrar, partir, arrebentar”. Na origem etimológica da palavra está contida a descrição dessa prática no indivíduo, em suas relações, na sociedade. A corrupção destrói, estraga, quebra, arrebenta e desfigura. Nesse aspecto, não há como não associar a corrupção ao pecado. Afinal, como está escrito, “o salário do pecado é a morte” (Rom: 6,23).
Essa reflexão é profundamente pertinente aos nossos dias. Assistimos aos noticiários diários, que, de forma sistêmica e insistente, relatam a descoberta de algum novo desvio de verba pública, esquema de propinas, atos de improbidade administrativa, independentemente da esfera, seja ela municipal, estadual ou federal. Não se trata de uma geração específica de homens públicos ou de uma bandeira partidária: a corrupção no Brasil tornou-se uma endemia institucionalizada.
Indignamo-nos com os malfeitos alheios, atiramos pedras principalmente nos políticos por seus atos de decência duvidosa, no entanto, não exercemos a autocrítica sobre nossas pequenas ações no dia a dia. Como superar a corrupção que destrói a nossa nação? Como erradicar essa mazela que, como um câncer em metástase, se prolifera e apodrece as relações entre os indivíduos, em todas as instâncias e espaços de convivência interpessoal, inclusive nas igrejas?
Benjamin Disraeli certa vez escreveu: “Quando os homens são puros, as leis são desnecessárias; quando são corruptos, as leis são inúteis”. Aí está o caminho da vitória: sejamos eu e você honestos. Falando assim, parece que estamos propondo o óbvio, tal como afirmar que a água é molhada ou que o sol é quente. Mas é isso mesmo! E repito: seja honesto. Não por medo da punição do crime, mas porque é o certo a ser feito. Sinta-se desafiado a deixar de ser parte do problema e tornar-se parte da solução.
Respeite as filas, não jogue lixo na rua, não pare seu carro nas vagas que não lhe são destinadas (idosos ou deficientes), use sempre as expressões “com licença”, “por favor” e “obrigado”. Pode parecer pouco, mas as grandes jornadas sempre se iniciam com pequenos passos. Você não estará sozinho. E nossa jornada irá inspirar muitos outros. Fazer o certo deixará de parecer errado em nossa nação.
“Honestidade é fazer o certo mesmo quando ninguém está olhando” (Jim Stova).
(*) – Graduado em História, Mestre em Ciências da Educação e Especialista em Ensino Superior de História e Especialista em Gestão Escolar, é missionário da Comunidade Canção Nova, em Fortaleza.