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O QUINTO MEMBRO

em Opinião
quinta-feira, 01 de dezembro de 2016

Heródoto Barbeiro (*)

O corpo Humano se divide em três partes: cabeça, tronco e membros. Tem quatro membros. Dessa forma se aprendia na escola ensinada pela professora de biologia.

Mas a tecnologia criou um quinto membro. Ele é o smart phone. Nos metrôs, nos trens, ônibus, praças e na poltrona, em frente à tevê, pessoas exibem o seu quinto membro. Esse gadget derrubou o mito de Édipo, escrito por Sófocles, há uns 500 anos antes de Cristo e considerado pelo contemporâneo Aristóteles a mais perfeita tragédia grega.

O mito conta que Édipo para chegar a Tebas teria que passar pelo monstro Esfinge, que lhe propõe um enigma. Se errasse, morreria: qual o animal que anda de quatro, depois de dois e finalmente com três membros? O ser humano! Édipo venceu e a Esfinge se matou. Mas ninguém precisa morrer para identificar o quinto membro: o indispensável celular com acesso à internet. A tecnologia derrubou o velho e bom Sófocles. Os seres humanos do século 21, dois quartos da população de Gaia, possuem tal tecnologia ao alcance da mão e com um simples toque acessam o mundo.

O quinto membro não para de ser potencializado, todos os anos 100.000.000 de novos chips chegam ao mercado, cada vez mais baratos e poderosos.Vem aí um chip minúsculo que vai conter trilhões de transistores do tamanho de moléculas. Atualmente existem uns 900 milhões de computadores pessoais espalhados por aí. Um para cada sete habitantes. Este número também não para de crescer. Assim como a evolução proveu o ser humano de quatro membros, a tecnologia acrescentou o quinto. Portanto nada leva a crer que algum deles desaparecerá.

Pelo contrário, eles ficam cada vez mais fortes nas academias, nas corridas de rua e nos laboratórios de tecnologia espalhados pelo mundo. Estão associados ao corpo humano ainda que modificados pela ginástica, suplementos alimentares, vitaminas ou novos chips instalados no corpo. Os quatro membros suportaram o desenvolvimento da ciência ao longo de muitos séculos e foram vitais para o cérebro ser levado de um lado para outro e construir o que a tecnologia possibilitou, de uma arma feita de bronze ao primeiro computador pessoal.

Daí para frente o quinto membro passou a ser tratado nos laboratórios e ganhou acesso a grandes servidores capazes de armazenar bilhões de informações e computadores com a velocidade de até 136 milhões de operações por segundo. Onde isso vai parar? Não se tem a menor idéia. Filósofos, sociólogos, historiadores, antropólogos, matemáticos, físicos e até jornalistas têm as mais diferentes interpretações sobre o futuro que cavalga desabaladamente na informática. O perigo é o cavalo se atirar na primeira parede que encontrar pela frente.
O homem se virou bem com apenas quatro membros quando quebrou o paradigma do uso da pedra pela metalurgia, descobriu o planeta em navegações perigosas no século 16 e processou duas fases da revolução industrial. O quinto membro é fruto da tecnologia digital, com todas as conseqüências sociais, econômicas e políticas que o mundo enfrenta hoje. Não se modifica a morfologia humana impunemente. Nosso conhecido Édipo, ao invés de acrescentar membros, retirou, e nos reduziu, primeiro a dois, depois a três.

Todavia todos as manhãs, milhões de pessoas ao redor do mundo, ao invés de preparar o café consultam o quinto membro. Além do noticiário geral, e as últimas das celebridades, verificam a cotação das bolsas de valores, sites de economia, programas disponíveis de áudio e vídeo sobre o que acontece no mundo dos negócios públicos e privados. O bom café da manhã perdeu a preferência. E ao sair de casa, o ser humano do século 21, não pode esquecer de levar o quinto membro. Sem ele tudo dá errado.

(*) – É âncora e apresentador do Jornal da Record News e editor do blog no R7 ([email protected])