Jacir J. Venturi (*)
A escola é um espaço de aprendizagem, convivência e alegria. No entanto, também de conflitos.
E é salutar que o seja, pois ela é um laboratório para a vida adulta e esta exige resiliência às frustrações, tristezas e divergências. Sendo impossível e até indesejável que se zerem os conflitos, há como minimizá-los desde que exista um regramento e uma unicidade de ação e verbalização dos gestores, professores e funcionários.
Ademais, o ambiente escolar é um cadinho da comunidade na qual está inserido, onde campeiam mazelas e virtudes de toda ordem. Essa diversidade é uma riqueza, pois o convívio potencializa o desenvolvimento das habilidades humanas e sociais. Se bilhões de árvores compõem a Floresta Amazônica e não há duas árvores iguais, quanto mais nós, humanos, dotados de inteligência e sentimentos! Somos diversos, mas não precisamos ser adversos.
Todavia, no contexto escolar há a presença do bullying, que em geral é a principal fonte de hostilidades e sofrimento, sendo um indicativo do quanto a escola está comprometida moralmente. É responsabilidade dos professores e gestores implementar uma cultura de tolerância, respeito e aceitação de que somos diferentes, através da vigilância e de ações de orientação sobre as eventuais agressões.
Todo conflito deve ser atacado no nascedouro, antes que a marola vire um tsunami, e enfrentado em profundidade, como um desafio, não apenas tangenciado. Ademais, requer do mediador um bom discernimento para decidir entre resolver de pronto ou praticar a técnica do decurso dos dias para que os envolvidos reflitam e maturem. O travesseiro pode ser um bom conselheiro, ensina a sabedoria popular.
Diante de uma contenda entre duas ou mais pessoas, o conciliador deve ser imparcial, porém assertivo, e sempre que oportuno aliviar a tensão com uma boa frase de efeito, como a clássica de Shakespeare: “A tragédia começa quando os dois lados acham que têm razão”. Recomenda-se, ainda, enfatizar que há de prevalecer a força dos bons argumentos e a disposição para o diálogo.
Em casos mais extremados, o educador deve fazer uso de sua autoridade e exigir alguns minutos para uma reflexão em silêncio. E, sereno, retomar o diálogo com uma resenha do acontecido ou um toque de humor para desfazer as nuvens borrasquentas. Por exemplo: vocês sabem por que cavalo dá coice? E, sorrindo, responde: porque cavalo não sabe argumentar.
É consenso o fato de que a boa rotina, a comunicação eficaz, a disciplina e o bom ensino curricular definem uma gestão escolar eficiente e minimizam os conflitos. Igualmente importante é oportunizar às crianças e aos adolescentes o convívio no ambiente escolar, pois é uma fase única na qual há um baixo custo em se aprender com os erros nas relações humanas. É um singular laboratório para a prática das inteligências inter e intrapessoais (segundo Gardner), que ensejam adultos flexíveis, abertos ao diálogo e que saibam conviver com a diversidade na futura vida profissional e familiar.
De todas as virtudes, a mais importante é a solidariedade: base das relações sociais e a partir da qual se fundamenta uma convivência pacífica.
(*) – Professor e diretor de escola durante 41 anos, é coordenador da Universidade Positivo e presidente do Sinepe/PR.