Vivian Rio Stella (*)
Como diz a canção da Legião Urbana, “e aos 29, com retorno de Saturno, decidi começar a viver”.
Muitos profissionais sentem isso quando chegam a essa idade, véspera dos emblemáticos 30 anos. Ou porque acertaram a escolha da carreira, mas não sabem que caminhos percorrer no futuro, ou porque ainda não se encontraram. Vamos refletir sobre essas duas situações?
Clarisse, por exemplo, escolheu cursar Engenharia e logo conseguiu um emprego numa multinacional, onde vem crescendo e sendo reconhecida. Ao olhar para trás, vê que já conquistou e se desenvolveu muito desde que se formou; ao olhar para o lado, nota que há colegas de faculdade ou amigos da mesma idade em situações piores, semelhantes ou melhores do que a sua.
A grande questão de Clarisse é ao olhar para frente: ela não sabe se deve continuar no mesmo emprego, pois já se sente numa zona de conforto; se arrisca mudar de empresa para subir de nível ou vivenciar uma outra cultura organizacional; se investe num MBA fora do país para realizar um sonho antigo. No fundo, Clarisse percebe que há inúmeras escolhas e, ao mesmo tempo, sente medo de trocar o certo pelo incerto.
Gabriel vivencia essa “crise pré-30” de uma outra forma. Depois de ter cursado três anos de Publicidade e, insatisfeito com o curso, decidiu passar um ano fora do país. Apesar de ter se interessado por outras atividades, decidiu concluir o curso e trabalhar numa agência de publicidade, mesmo a contragosto. Insatisfeito com seu ramo, saiu da agência e montou uma loja de cerveja com amigos de infância, algo que sempre desejou. Passados alguns anos, Gabriel teve que fechar a loja por não ter dado o retorno financeiro esperado.
Ao olhar para trás, Gabriel sente que viveu experiências diversificadas que o fizeram ser quem ele é; ao olhar para os lados, vê amigos de facudade já estabelecidos financeiramente, mas não se vê na carreira de publicitário; ao olhar para frente, vê que ainda há muito o que trilhar e não sabe bem em que investir tempo e energia: num novo curso, num novo negócio, numa nova carreira. É como se Gabriel tivesse feito escolhas que não o direcionaram para um caminho, mas para muitos caminhos, o que o deixa indeciso, inseguro e insatisfeito.
Essas duas histórias apenas ilustram o que muitos profissionais sentem com a proximidade dos 30 anos. Independente de ter acertado a carreira ou não, ao olhar para trás, esses jovens percebem que já realizaram e aprenderam muitas coisas; ao olhar para os lados, deparam-se com a inevitável comparação em relação a seus colegas, amigos e familiares; ao olhar para frente, não sabem que ajuste de rota fazer, diante das inúmeras possibilidades.
Esses dilemas podem ser paralisantes ou estimulantes, dependendo de como o profissional lida com eles. Nesses casos, é aconselhável refletir, com a ajuda de um coach de carreira, o melhor ajuste de rota. No processo de coaching, é possível identificar quais são os seus valores, as suas fortalezas, os seus pontos cegos e as suas crenças limitantes; quais os impactos dos diferentes caminhos que pensa em seguir daqui pra frente; onde gostaria de estar e o que gostaria de ter ou fazer daqui três, cinco ou dez anos. Dessa maneira, o próprio profissional, orientado por um coach, chegará às respostas para seus dilemas e poderá tomar uma decisão com maior confiança e embasamento.
Por fim, lembre-se de duas coisas: primeiro, nem tudo precisa estar resolvido antes dos 30, afinal, vivemos cada vez mais e o mercado de trabalho tem se tornado mais complexo e cheio de novas oportunidades; segundo, um caminho nunca é definitivo só porque você já tem 20, 30, 40 ou mesmo 50 anos. Há sempre prós e contras e novos caminhos a serem seguidos.
(*) – É Doutora em Linguística pela Unicamp, pesquisadora de Pós-Doutorado no grupo Atelier da PUC-SP, consultora e diretora da empresa de treinamento executivo VRS Cursos (www.vrscursos.com.br).