Patrícia Casseano (*)
No meio dos anos 90, durante minha passagem pela Folha de S. Paulo, a redação era bem diferente das atuais.
A informatização já existia. O digital tinha chegado para ficar. Mas um aparelhinho curioso ainda ocupava espaço por ali: o Fax. E era logo na boca do Fax que outro item, este ainda atual nos dias de hoje, permanecia à espera de “alimento”: a lixeira.
Pois é, este fax recebia os releases das assessorias de imprensa. O lixo era o destino certo para vários materiais. Só consultávamos aquela bendita cestinha quando precisávamos ocupar espaço no jornal. E isso, meus amigos, foi há mais de 20 anos.
Estamos em 2016 e o mercado das assessorias caminha para um cenário ainda mais desafiador. Muitas estão migrando para o digital e oferecendo um “cardápio” integrado para o cliente: imprensa + mídias sociais. No futuro, acredito, este menu irá variar mais e mais. O motivo é simples: nosso modelo de negócios atual não é sustentável.
O mercado contemporâneo clama por novas atitudes e iniciativas. Vemos passaralhos aos montes, mídia tradicional perdendo espaço para veículos independentes/influenciadores e as assessorias no meio, tentando emplacar seus clientes. Tudo isso vai mudar muito nos próximos anos. Teremos outras funções, muito mais como consultorias de comunicação do que qualquer outra coisa. Os clientes e grandes empresas ficarão perdidos, sem saber o lugar certo para investir. É aí que o nosso conhecimento como jornalistas e relações públicas entra.
Em 2020 nós não iremos mais enviar releases para as redações. Não há certezas sobre o cenário, mas posso apostar que nosso trabalho será baseado em experiências de marca feita com os influenciadores, veículos (aqueles que sobreviverem até lá) e jornalistas independentes. E claro: muita produção de conteúdo com o maior rigor quanto à qualidade nas mais diversas plataformas.
Não sei se seria exagero demais pensarmos na seguinte situação para daqui cinco ou 10 anos: uma agência de viagem que contrata uma assessoria de imprensa e precisa divulgar seu negócio. Entre pautas institucionais e produtos (leia-se aqui as viagens), ao invés da assessoria enviar um release, mandaria para a redação um Oculus Rift para que o jornalista tenha uma experiência, sem sair de sua cadeira, e conheça o destino de uma próxima viagem que irá indicar a seus leitores.
Ou ainda outro exemplo. Uma multinacional de iluminação que conte com uma empresa de assessoria para divulgar um novo componente. Então, o assessor enviaria os mesmos óculos para que o jornalista visite ambientes de uma casa e experimente o efeito de luz em cada local. Assim, decida por comentar ou postar um vídeo sobre o assunto no canal em que trabalhar.
No futuro, será ainda mais difícil encaixar uma pauta espontânea e as mídias proprietárias – os canais de seu cliente nas mídias sociais – serão de extrema importância para atingir o público. Talvez até seja o melhor dos caminhos, o mais direto ao consumidor. De toda forma será o mais trabalhoso, já que o consumidor será e estará ainda mais exigente. Se o consumidor estará mais exigente, o cliente acompanhará esse movimento. Nesse sentido, outra peça desse jogo será colocada em xeque: o relatório de ROI. Afinal, como medir resultado nesse novo cenário? Isso também deverá ser repensado.
Até lá, essas apostas podem mudar. Um novo Facebook pode aparecer, o Youtube pode perder público, um novo modelo de transmissão pode começar a fazer sucesso, Jeff Bezos pode surgir com algo revolucionário na comunicação, Elon Musk também pode aparecer com uma invenção disruptiva, etc. Mas não espere até lá. Comece a mudar agora. O seu cliente já tem canal no Youtube? Já tem página no Facebook? Blog? E-commerce? Não perca tempo. Lembra do futuro? Você está vivendo nele.
Não há certezas, é verdade, mas se continuarmos trabalhando como fazíamos há cinco, dez ou vinte anos, certamente teremos lugar garantido no único local que nos restar: a lixeira.
(*) – É Jornalista e Diretora-executiva do Grupo Image.