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Acordo do clima sela o destino dos combustíveis fósseis

em Opinião
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Reinaldo Dias (*)

Aqueles que não se adaptam são excluídos e substituídos por aqueles que se identificam com o novo paradigma

Algo para que o acordo de Paris (COP-21) aponta é o fim da utilização dos combustíveis fósseis como meta alcançável ainda neste século, assim como a expectativa de haver um esforço global para sua viabilização no mais curto prazo possível, em vista das evidências da progressão de altas temperaturas no planeta, devido ao efeito estufa. Este ponto foi consensual no encontro e traz um enorme significado para nossa civilização industrial.

Nossa atual civilização se baseia em um modelo que busca o crescimento econômico por meio da utilização ótima de insumos e fatores de produção (capital físico e trabalho). Esse modelo, ao longo das últimas décadas, conseguiu elevado crescimento da economia mundial, permitindo a milhões de pessoas um desfrute em altos níveis de qualidade de vida. No entanto, esse crescimento foi alcançado com o esgotamento de recursos naturais e, consequentemente, a degradação e perda de ecossistemas.

Privilegiando a vertente econômica em detrimento das variáveis ambientais e social, o modelo se caracteriza pelo uso intensivo de combustíveis fósseis, pela exploração abusiva dos ecossistemas e a não utilização de métodos eficazes na administração de recursos naturais – como a água e o sol. O acordo de Paris possibilita o surgimento de um modelo de produção integral e inclusivo que leva em consideração as variáveis ambiental e social, se pautando por baixas emissões de carbono com a utilização predominante de energias renováveis e uso racional e sustentável dos recursos naturais.

Ocorre que para ser possível o gradativo abandono dos combustíveis fósseis é necessário que as sociedades avancem no desenvolvimento de inovações verdes que permitam a obtenção de energia de fontes alternativas a um custo mais baixo. Neste aspecto, o acordo do Paris abre uma ampla possibilidade de renovação industrial que provocará mudanças significativas em processos, produtos e serviços nos próximos anos. Muitos investimentos que priorizaram os combustíveis fósseis nos últimos tempos deverão ser repensados e provavelmente abandonados.

Outro aspecto a ser considerado é a necessidade de inovações, a qual permitirá o desenvolvimento sem precedentes do empreendedorismo. Isso acontece uma vez que a iniciativa empreendedora consiste em adaptar o avanço científico e tecnológico à atividade produtiva, desenvolvendo novidades que desequilibrarão a estrutura do mercado.

Este processo foi denominado por Joseph Schumpeter como “destruição criativa”, que é quando as tecnologias existentes são superadas por inovações radicais, adotadas por empreendedores dinâmicos, provocando uma ruptura no mercado. Nesse movimento, aqueles que não se adaptam são excluídos e substituídos por aqueles que se identificam com o novo paradigma.

Países que avançarem neste processo de inovação terão a vantagem de contribuir como indutores de um desenvolvimento mais sustentável. Algumas medidas que podem ser tomadas de imediato são: o aumento de investimentos em pesquisa de fontes renováveis, incentivos fiscais para adoção de mecanismos que utilizem a energia limpa, favorecimento da concessão de serviços públicos para empresas que apresentarem frota de veículos que utilizem combustível verde, estimulo à pesquisa nas universidades entre outras.

A inovação é o verdadeiro motor da economia, e nesse sentido, as decisões tomadas em Paris na COP-21 contribuirão para provocar o surgimento de um novo tipo de desenvolvimento. A tendência de utilização predominante de fontes renováveis é irreversível, as organizações que se prepararem sobreviverão, as demais serão “criativamente” destruídas.

(*) – É professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas. Doutor em Ciências Sociais, Mestre em Ciência Política e especialista em Ciências Ambientais.