Eduardo Bahiense (*)
O tema tecnologia e educação tem sido recorrente em todo lugar.
A impressão, para quem está de fora, é que a tecnologia é uma jovem rebelde e indisciplinada que vem desestruturar o sistema e provocar o caos. Mas não é bem assim. Em poucos minutos de reflexão, todos podem chegar a um veredito diferente, afinal, nenhum de nós estaria disposto a abdicar de um milímetro das vantagens que a dita “nova” tecnologia nos trouxe.
Para começar essa discussão, primeiramente precisamos definir o que se entende por tecnologia. Que tal falarmos sobre mimeógrafos, retroprojetores, fotocopiadoras, calculadoras, computadores, notebooks, editores de texto e planilhas? Tecnologia nunca foi o problema.
O que se discute agora não é bem a questão da tecnologia, pois ela sempre foi requerida e incentivada. O que se debate é o que smartphones, tablets e suas conexões provocaram no comportamento social e o quanto esta nova realidade liberalizou o acesso à informação, boa e ruim, e revolucionou o universo das interações humanas. A escola, a imprensa, os livros e mesmo a família deixaram de ser as únicas fontes de conhecimento e isso causou um vazio que está se transformando em pânico.
Como esse vazio não pode ser entendido, a conversa logo se direciona para criticar os jovens. Somos incapazes de lembrar que nossos pais eram quadrados, cafonas, caretas e reclamavam dessa juventude de hoje, como estamos fazendo agora. Uma vez estabelecido que não há nada de novo no ar, podemos analisar o cenário com outro olhar. A primeira coisa que temos que assumir é que não temos o poder de mudar o curso das transformações. A segunda, natural e óbvia, é que precisamos enxergar que sempre há oportunidades em tudo, especialmente no caos.
Dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil de 2014, analisando estudantes entre 9 e 17 anos, mostram que 61% dos jovens das classes A e B acessam a Internet por smartphones. O mesmo acontece com 49% dos jovens da classe C e 47% dos jovens das classes D e E. Dados do último ENEM dão conta que há, inequivocamente, relação direta entre classe social e desempenho no exame. Pelo menos 80% dos jovens entre as 100 instituições melhor classificadas estão nas classes A e B.
Se a diferença de classe social não é capaz de gerar um abismo tão grande com relação ao uso da tecnologia e se essa mesma tecnologia é capaz de ignorar barreiras e fronteiras, parece que temos aí uma grande oportunidade de democratizar o acesso ao conhecimento, à capacidade crítica e à cidadania. Mas como equilibrar essa balança: de um lado esses estranhos jovens e de outro, os preceitos e formalidades do ambiente educacional?
Bem, se você não andou pesquisando a respeito, deixe-me te dar algumas boas notícias: as ditas gerações Y e Z são, notadamente, mais éticas, mais preocupadas com problemas da sociedade e do meio ambiente e são mais críticas quanto à qualidade da sua participação nos ambientes em que estão inseridas. Do ponto de vista do sistema educacional, parece que o equilíbrio depende da adesão dos métodos educacionais à nova ordem, já que limitar o ambiente social não é uma opção. Educadores precisam “curtir” se relacionar dessa forma, precisam “curtir” fazer parte de uma comunidade, precisam se postar mais como facilitadores de uma clientela ágil e dinâmica do que como gerentes do processo de aprendizagem.
O mundo está diferente e mudando mais a cada dia. Para achar o equilíbrio entre tecnologia e educação é importante que haja uma evolução nas escolas, que os professores desenvolvam as potencialidades das crianças e jovens e que as ensinem em um cenário que se transforma a cada “atualização” de status.
(*) – É fundador da Controller Education e há quinze anos desenvolve tecnologias para a educação.