Quem já está maduro consegue retornar à infância quando o assunto é Walt Disney que vem sendo lembrado em razão dos 60 anos de inauguração da Disneylândia, na Califórnia, o primeiro parque temático interativo entre crianças e adultos, algo nunca visto antes, em um cenário juntando em um só lugar vários contos de fadas, seus personagens e ainda um castelo de sonhos.
Walt Disney, nasceu em Chicago no ano de 1901 e costumava dizer que o pai era um homem severo, daqueles que quase nada permitia aos filhos a não ser estudar e foi assim que conseguiu algo que desejava muito, um curso de artes e desenho. Seu gosto era pelo cinema de animação, arte que passou a desenvolver o deixando conhecido a partir de 1928, quando levou para as telas as primeiras animações em desenhos com dois personagens que ficariam famosos, Mickey e o Pato Donald.
As primeiras animações ainda eram em preto e branco, mas Walt Disney decidiu ser ousado e partiu para uma grande produção, montando um desenho animado de longa metragem com uma estória já conhecida e o melhor de tudo, em cores. Assim foi escolhida Branca de Neve e os Sete anões. O conto original dos Irmãos Grimm foi levado às salas de cinema em 1937 e foi a primeira criação do gênero na história, com orçamento inicial de 150 mil dólares, mas o filme acabou custando um milhão e 400 mil dólares, um valor astronômico para a época dado o trabalho que deu, visto que a produção levou três anos para ser concluída.
Pelo filme Walt Disney ganhou um Oscar como produtor e na premiação recebeu uma estatueta no tamanho original e outras sete em miniatura, representando os personagens principais do filme repleto de curiosidades em seus bastidores. Por exemplo, cerca de 50 nomes foram inicialmente propostos para os anões do filme. O nome do anão “Atchim”, ou “Sneezy”, em inglês, seria “Jumpy”, mas uma substituição de última hora fez a troca dos nomes.
Nas versões em outras línguas que não o inglês, os nomes dos anões em suas respectivas camas foram substituídos pelos nomes por eles recebidos em cada país. Os lucros propiciaram outros filmes como Pinóquio e Cinderela, entre os anos de de 1940 e 1950 também com sucesso e Disney, então milionário, começou a pensar em novos investimentos.
Certa vez, levou suas filhas Diane e Sharon, ao Griffith Park, em Los Angeles. Enquanto elas brincavam no carrossel, ele pensava na possibilidade de se criar um local onde as crianças pudessem se divertir junto com os pais. Decidiu construir um parque temático perto dos estúdios Disney em Burbank, na Califórnia, mas para sua surpresa, a prefeitura da cidade negou a licença para o empreendimento.
Poucos acreditavam que o projeto pudesse dar certo e não apareciam sócios, até que o produtor decidiu construir seu sonho com recursos próprios. Vendeu uma casa e usou uma apólice de seguro e passou a dirigir seus projetos a países vizinhos no sentido de que todos um dia fossem visitar seu futuro parque. Walt Disney saudou primeiro a América do Sul promovendo em filme um passeio pelo continente. Ao mesmo tempo continuava sendo aconselhado a desistir da ideia de um parque dos sonhos, mas, teimoso, seguia adiante e depois que a obra começou continuou teimoso.
Discutia com os arquitetos as mudanças que queria no projeto, como a construção de um castelo para a Bela Adormecida. Argumentavam que não teria graça por não sediar nenhum brinquedo e isso não geraria lucros. Outra decisão contestada foi a de proibir a venda de bebidas alcoólicas dentro do parque, mesmo sabendo que ganharia menos dinheiro com isso.
Para construir o parque, Walt Disney comprou 160 hectares de uma plantação de laranjas nos arredores de Los Angeles e começou, em 1954, a construção do seu “Reino Mágico”. Os planos originais eram para uma área de 45 hectares ao custo de US$ 9 milhões. No dia da abertura o parque já estava no tamanho exato do terreno: 160 hectares ao custo de USS 17 milhões. Mas enfim nascia, o Mundo de Ontem, de Amanhã e da Fantasia, o Lugar mais feliz do Mundo: DISNEYLÂNDIA
Os primeiros ansiosos visitantes fizeram seu caminho de entrada pela ponte levadiça do castelo da Bela Adormecida, ao custo do ingresso no valor de apenas um dólar. Depois, compravam-se tickets adicionais para se desfrutar das diversas atrações do parque. Atualmente, o passaporte de um dia na Disneyworld custa em média R$ 1.050,00 para os adultos que viajam do Brasil para os Estados Unidos.
Para tornar seu projeto conhecido no mundo todo, Disney investiu também em filmes com atores e efeitos especiais. O primeiro deles foi Mary Poppins. Além disso, os personagens estavam cada vez mais próximos culturalmente e todos já sonhavam em visitar a Disneylândia. O Pato Donald, por exemplo, passou a ser publicado em revistas de histórias em quadrinhos no Brasil, a partir de 1950, tendo um amigo brasileiro, o Zé Carioca, conquistando públicos de toda as culturas e raças. Até uma série de TV surgiu com o nome Disneylândia, onde o próprio Disney fazia a apresentação, narrando as histórias que no Brasil eram narradas em português por interprete de voz exótica que parecia cantar ao pronunciar palavras como “Era uma veez”…
Walt Disney morreu cedo, aos 65 anos, no 15 de dezembro de 1966, com seu projeto ainda em andamento, mas com seus personagens presentes em todos os lugares, nas roupas infantis; nos cadernos escolares e nos brinquedos.
Como a porta de entrada para os Estados Unidos sempre foi pela costa leste, em 1971 era inaugurada a Disneyworld na Flórida, sendo o passo inicial para a globalização desses parques temáticos, agora com unidades em Paris, Tókio, Hong Kong e em breve Xangai. O Grupo Disney mantém uma linha de cruzeiros marítimos nas Bahamas e no mundo todo; canais de TV a cabo, estúdios de cinema e televisão, emissoras de rádio, publicações Marvel, DC Comics, Tarzan e mercado fonográfico, mercado digital, produtos temáticos licenciados e muito mais.
Todas as trilhas sonoras dos filmes Disney derivam de uma trilha original “When You wish upon a Star”, composta por Cliff Edwards para o desenho Pinóquio, de 1940. Essa trilha sonora ganhou o Oscar de Melhor Canção Original e fez tanto sucesso que ainda é usada para abrir filmes e seriados da Disney. Já foi gravada por grandes nomes da música mundial, havendo para o Brasil uma versão em português gravada há muitos anos pelo cantor Orlando Silva. Há outra gravação brasileira, só que em inglês, feita nos anos 90, na voz de Renato Russo.
Nos Estados Unidos dizem que a Disneyworld é sonho de consumo não só dos vivos, mas também dos mortos. Apesar de ter sido proibido pelos organizadores, muita gente tenta quase que diariamente espalhar as cinzas de pessoas falecidas nos parques da Disney a pedido destes quando em vida. Quatorze das atrações originais do dia da inauguração da Disneylândia, em 17 de julho de 1955, ainda estão em funcionamento e o congresso americano precisou promulgar uma lei para que se instalasse o Brasão Presidencial na atração “Sala dos Presidentes”, na Disneylândia. Só existem outros três brasões semelhantes e os outros dois estão no Salão Oval da Casa Branca e na sala que contém o Sino da Liberdade.
(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected]” data-mce-href=”mailto:[email protected]“>[email protected])