Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
Ao se afastar da natureza, o homem se apegou ao dinheiro e intensificou sua vontade de tudo dominar
Na idade média, o dinheiro era confusamente demonizado pela Igreja que deixou de lado o fato de que Jesus foi criado por José, proprietário de uma próspera e conceituada empresa de marcenaria que recebeu como herança de família, mas que ao seguir em sua missão esclarecedora deixou-a para seus irmãos. Quando o uso do dinheiro se expandiu pelo mundo, alguns estudiosos passaram a examinar atentamente as suas relações com os humanos e o lento processo da transferência do poder de mando. Foi estabelecido que os reis deveriam impedir os malefícios das mutações monetárias, zelar pela estabilidade, não cair no endividamento desnecessário.
Segundo Nicole Oresme, em seu tratado De Moneta, do século 13, “a moeda é um bem comum da população”. Ela não poderia ser objeto das inescrupulosas manipulações. Especular com a moeda deveria ser definido legalmente como crime de lesa-humanidade. A economia está inserida num sistema de política globalizante que acirrou os movimentos especulativos que tripudiam sobre as moedas. Além disso, os gestores públicos não administram as contas com eficiência e com isso levam os países a se endividarem, o que vem ocorrendo há séculos.
Depois, na hora de pagar os juros e fazer os resgates, a situação se complica e os organismos monetários, que deveriam ter agido por antecipação determinando melhor planejamento, passam a ser rigorosos a fim de assegurar alguma solvabilidade, impondo sacrifícios que poderiam ter sido evitados com o uso de seriedade e bom senso.
Muitas pessoas não olham o que tem de bom em seu redor para se alegrar buscando a melhora. Em vez disso ficam se lamentando, enfatizando o negativismo. As pessoas estão percebendo que o tempo voa. A ansiedade explode, as pessoas querem falar, querem agir, querem fazer tudo na pressa, sem refletir, como se o tempo estivesse acabando. Quem entende isso? Quem examina? Nesta quadra da vida temos de ser desbravadores com coragem e persistência. É fundamental entender o que se passa ao nosso redor. Vamos erguer bem alto a bandeira da consideração e do respeito ao próximo.
Na economia, temos oscilado da euforia ilusória ao negativismo exacerbado. Falta o bom senso dos pés no chão. Assim não aproveitamos os momentos melhores e desanimamos nos mais difíceis. Isso está ligado à falta do conhecimento do significado da vida e seu propósito maior, o que transformou os seres humanos em trabalhadores temporários, consumidores de baixa renda, sem que se deem conta da grandeza que os rodeia.
O Brasil já esteve do lado da felicidade da vida, com população generosa e alegre. Essa condição tem sido destruída pelo embrutecimento que já começa no ato de geração. O que esperar de seres gerados sem amor, sem incentivos para a busca do propósito maior da vida? O acorrentamento voluntário às cobiças e vícios está levando todo um país ao descalabro, dominado pelo logro, violência e prepotência. A verdadeira solidariedade está na contribuição de cada um para o beneficiamento do todo. Isso requer maturidade espiritual e compreensão do significado da vida.
Ao se afastar da natureza, o homem se apegou ao dinheiro e intensificou sua vontade de tudo dominar. Sabe o que está fazendo ao destruir as condições que possibilitam a vida, mas insiste em viver em conflito com a natureza em vez de se ajustar a ela. A intuição também é importante, pois ela sabe, ela pressente a grandiosidade dos automáticos mecanismos que sustentam os habitats.
A intuição nos chega através do plexo solar, de onde segue instantaneamente pela rede de nervos para o cerebelo, processada e enviada para o cérebro frontal para fazer análises, ajustes e decisão.
Lamentavelmente grande parte das pessoas não consegue mais ouvi-la, pois bloqueou os canais naturais.
(*) – Graduado pela FEA/USP, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.libr ary.com.br). Autor dos livros: Conversando com o homem sábio; Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; e 2012… e depois? ([email protected]).