Claudio Roberto Grando (*)
O óbvio precisa ser dito: o aumento de tributos sobre a importação, por si só, não é a solução mais eficaz para manter a competitividade da indústria de moda brasileira frente ao boom de crescimento de alguns grandes players asiáticos.
É essencial adotar uma perspectiva que considere o modelo de negócios e o comportamento do consumidor, pois esses são pilares que impactam diretamente a indústria nacional diante dos concorrentes internacionais, cuja popularidade cresceu durante a pandemia.
O consumidor está mais informado do que nunca. Com o celular na mão, ele pesquisa tendências, compara preços e avalia a reputação das marcas. Esse fácil acesso à informação lhe permite escolher o que, quando e quanto pagar por determinado produto, ele tem o poder de decisão. Com os consumidores no controle, a agilidade dos concorrentes em desenvolver novos designs por meio de metodologias rápidas se torna uma vantagem competitiva.
A indústria de moda nacional perde terreno por não ser ágil o suficiente. Produzir hoje o que será consumido na próxima estação já não basta — as tendências pautam o negócio, e o que é desejado hoje precisa estar nas vitrines amanhã, pois, depois de amanhã, o interesse já terá passado, deixando as peças paradas em estoque para quem não agiu com rapidez.
No Brasil, o termo fast fashion carrega uma percepção negativa, associada à moda barata e descartável. No entanto, moda rápida não é sinônimo de baixa qualidade, mas sim de agilidade no design, produção e logística até o consumidor final. A tecnologia é uma aliada nessa missão: ao automatizar processos e digitalizar rotinas de criação, as confecções e marcas podem ganhar velocidade, reduzir custos e evitar desperdícios de matéria-prima.
Atualmente, uma coleção pode levar de seis a 12 meses para chegar ao consumidor final. Como encurtar esse prazo para um mês? A resposta está em três pilares: tecnologia, processos e cultura. O investimento em tecnologia é fundamental para melhorar o desempenho, mas soluções modernas, por si só, não resolvem o problema. É necessário repensar processos, reinventá-los e integrar a operação às tecnologias já disponíveis para a indústria têxtil. E, mais importante, promover uma mudança cultural.
Sem essa transformação, os avanços tecnológicos e processuais tornam-se nulos. Pensar rápido, criar e vender com agilidade, sem perder a qualidade e mantendo bons resultados, é possível. Essa pressão por consumo rápido sobrecarrega os departamentos de criação, que trabalham sob alto nível de estresse, sem tempo para pesquisar, se aproximar dos clientes ou acompanhar as novidades.
Além disso, o processo criativo lida com diferentes gerações, e todas elas, em maior ou menor grau, consomem informações pela internet e redes sociais. Entender as preferências da Geração Z é importante, mas também é essencial estar atento ao que consomem os baby boomers e a Geração X, por exemplo.
Nesse contexto, o conceito de Indústria 5.0, que coloca as pessoas no centro do processo produtivo, valorizando a qualidade de vida no trabalho e a automação em diversos níveis, é o caminho para atender o consumidor com o design correto, qualidade e preço justo.
A partir da evolução do processo criativo, alinhado ao conceito de indústria 5.0, podemos chegar à criação 5.0 – tendência que usa a tecnologia e zela pela criatividade, produtividade e bem-estar dos profissionais no segmento têxtil.
A taxação sobre importação é justa, considerando a alta carga tributária que as empresas no Brasil enfrentam, e isso deve ser equilibrado em relação aos concorrentes internacionais. No entanto, esse recurso, por si só, não garante a competitividade nacional, tampouco resolve todos os desafios enfrentados pela nossa indústria.
(*) – É chairman da Audaces (https://audaces.com/pt-br/solucoes/audaces-360).