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Colaboração internacional é chave para transformar a contabilidade

em Destaques
segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Marcio Rost (*), Sebastian Soares (**) e Tadeu Cendon (***)

A poucos meses do fim do ano, podemos afirmar que 2024 representou um período de avanços significativos tanto para a contabilidade como para a auditoria independente. É inegável que um dos principais fatores a impulsionar esses avanços foi uma sólida e proativa rede global de cooperação profissional.

A parceria entre entidades internacionais, como o International Accounting Standards Board (IASB) e o International Sustainability Standards Board (ISSB), e nacionais, como o Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon), o Conselho Federal de Contabilidade, a Comissão de Valores Mobiliários e o Banco Central, foi fundamental para promover e fomentar uma maior padronização no mercado global, e assim contribuir para a evolução das normas contábeis e de divulgação sobre sustentabilidade.

A 24th World Standard-setters (WSS) Conference, realizada em 23 e 24 de setembro de 2024, foi um marco desses esforços colaborativos. O evento reuniu mais de 130 organismos emissores de normas de 70 países e jurisdições, que participaram presencialmente em Londres e online. Especialistas em relatórios de contabilidade e sustentabilidade compareceram em peso para debater os projetos concluídos, em andamento e os futuros desafios.

Foi um espaço rico em diálogos, onde os principais emissores de normas compartilharam experiências e discutiram como continuar aprimorando as normas que regem o setor. Há grandes desafios pela frente, mas as perspectivas para o ano que vem, podemos afirmar, são muito animadoras. A norma IFRS 18, que trata da apresentação e divulgação das demonstrações financeiras, foi e continuará sendo destaque nos debates, considerando seu potencial impacto para as empresas.

As novas exigências, que entram em vigor em janeiro de 2027, representam um passo importante rumo à padronização das demonstrações financeiras, especialmente da demonstração de resultados e à transparência.

Ao introduzir categorias claras — operações, investimentos e financiamentos — e subtotais obrigatórios, como o lucro operacional e o lucro antes de financiamentos e impostos, a IFRS 18 melhora a comparabilidade entre empresas de diferentes setores e regiões. Esses avanços facilitarão decisões mais informadas por parte dos investidores e outros atores, em linha com a missão de fortalecer a credibilidade do mercado global.

. Interface com a sustentabilidade – Outro tema central da conferência foi a conectividade entre as Normas Contábeis IFRS e as Normas de Divulgação de Sustentabilidade ISSB. Num contexto mundial em que a agenda ESG está mais em pauta do que nunca, a complementaridade entre os dois conjuntos de normas é essencial para que as empresas apresentem informações financeiras e de sustentabilidade de forma integrada e consistente, com base nas mesmas premissas e conceitos.

Assim, as companhias podem fornecer dados que expandam a compreensão dos riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade, ao mesmo tempo em que aprimoram suas divulgações nas demonstrações financeiras, de acordo com as expectativas dos investidores e demais participantes do mercado.

Nesse contexto, importante também mencionar a recente revisão do Código de Ética por parte do International Ethics Standards Board for Accountants (Iesba), em que, dada a recente aprovação da norma de asseguração das informações de sustentabilidade (Issa 5000 – International Standard on Sustainability Assurance), incluiu-se no arcabouço do revisado código de ética, premissas éticas para profissionais além dos contadores — visto que a norma aprovada permite, em âmbito internacional, que os trabalhos de asseguração possam ser executados por qualquer profissional.

No Brasil, a Resolução 1.710/23 emitida pelo Conselho Federal de Contabilidade atribuiu aos contadores a responsabilidade pelos trabalhos de asseguração das informações de sustentabilidade.

. Trânsito internacional – Ao longo desse processo de evolução normativa, o Brasil se destacou pela participação nos debates internacionais e pela proatividade na adoção e implementação de normas, a exemplo da resolução da CVM 193/23 que determinou a adoção das normas de divulgação de informações de sustentabilidade (IFRS S) a partir de 2026, podendo ser adotado de forma voluntaria antecipadamente.

A representatividade brasileira em instâncias decisórias, como a presença de um representante no board do IASB e em diversos grupos consultivos da Fundação IFRS, fortalece essa posição de protagonismo. O Ibracon, entidade autorizada a editar e traduzir as normas IFRS para o português, tem sido fundamental para garantir a adoção adequada e contextualizada dessas normas no Brasil.

A entidade também faz a tradução das normas de sustentabilidade, consolidando o país como referência na adoção de práticas contábeis e de sustentabilidade em alinhamento com as exigências globais. Em suma, 2024 foi um ano de grandes avanços na construção de uma estrutura contábil mais transparente e alinhada às necessidades do mercado mundial. A colaboração internacional reforça o compromisso de criar um ambiente de mercado financeiro mais confiável e padronizado.

À medida que caminhamos para a implementação de novas regulamentações e projetos, o futuro da contabilidade parece promissor. A integração contínua das práticas globais e nacionais será essencial para garantir que o mercado de capitais receba informações de qualidade, completas e consistentes, e dessa forma reforçar a confiança de investidores e reguladores, em um mundo cada vez mais complexo e interconectado.

(*) – É membro da CNNT do Ibracon e do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

(**) – É presidente do Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon).

(***) – É membro do board do International Accounting Standards Board (IASB).