Severino Sanches (*)
A conectividade no campo tem se mostrado um fator crucial para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil, impulsionando a modernização, a eficiência e a sustentabilidade das operações agrícolas.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de fazendas com acesso à internet saltou de 78,1% em 2022 para 81,0% em 2023. Este avanço reflete o esforço contínuo para integrar tecnologia e inovação no setor rural, superando, inclusive, o ritmo de crescimento nas áreas urbanas.
A implementação da internet vai muito além da simples facilidade de acesso à informação, uma vez que tornou-se um ativo indispensável para a modernização deste mercado, permitindo o monitoramento em tempo real das lavouras, a gestão eficiente dos recursos hídricos e energéticos, e a facilitação da comercialização de produtos. Ferramentas como drones, sensores e sistemas de automação agrícola dependem diretamente de uma infraestrutura robusta, possibilitando ao agricultor adotar práticas mais precisas e eficientes.
A sustentabilidade no agronegócio é um dos grandes benefícios promovidos pela conectividade, e o uso de energia solar é um componente essencial dessa transformação. Segundo a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), os consumidores rurais correspondem hoje a quase 15% do total de 25,2 GW de potência solar instalada no país por meio de sistemas de GD (geração distribuída), permitindo uma redução significativa nos custos energéticos e na dependência de fontes de energia não renováveis.
Essa energia renovável, aliada à conectividade, permite o funcionamento contínuo de equipamentos essenciais, como sistemas de irrigação automatizada e monitoramento climático. Com essas tecnologias, os produtores conseguem tomar decisões mais informadas e precisas, garantindo uma gestão agrícola mais sustentável e eficiente. Além da geração de energia limpa contribuir para a diminuição da pegada de carbono do setor, alinhando-se às metas de sustentabilidade globais.
A conectividade também desempenha um papel fundamental na segurança das propriedades rurais. Com a integração de sistemas de segurança eletrônica, como câmeras de vigilância inteligentes e sensores de perímetro, os agricultores podem monitorar suas propriedades em tempo real, prevenindo invasões, roubos e outros crimes. Essas tecnologias de segurança são altamente dependentes de uma conexão de internet estável e de alta qualidade, que permite o funcionamento de sistemas de alerta em tempo real.
Além disso, essas imagens, analisadas por softwares avançados, podem identificar problemas nas plantações, como pragas, doenças ou deficiência de nutrientes, antes que eles se tornem visíveis a olho nu. Isso permite uma intervenção mais rápida e eficaz, aumentando a produtividade e a qualidade das colheitas, ao mesmo tempo em que reduz o uso excessivo de defensivos agrícolas, promovendo práticas mais sustentáveis.
Da mesma forma, a conectividade também tem um impacto profundo no desenvolvimento sustentável do agronegócio. Através da utilização de sensores remotos, IoT (Internet das Coisas) e análise de big data, os produtores podem monitorar o uso de recursos naturais, otimizar o planejamento de cultivos e reduzir o desperdício e a emissão de poluentes. Este avanço não só contribui para a produtividade e a eficiência das operações, mas também para as metas de desenvolvimento sustentável (ODS), especialmente nas áreas de Indústria, Inovação e Infraestrutura (ODS 9) e Ação Climática (ODS 13).
De acordo com a Secretaria de Agricultura de São Paulo, um acesso confiável à internet no campo pode aumentar o rendimento das atividades rurais em até 25%. Este dado evidencia o impacto econômico direto que a conectividade pode proporcionar, reforçando a necessidade de expandir e aprimorar sua infraestrutura.
No entanto, apesar deste aumento na implementação de redes de internet, ainda existem desafios significativos a serem superados. De acordo com o Indicador de Conectividade Rural (ICR) divulgado pela ConectarAgro, somente 19% da área agrícola produtiva no Brasil possuem cobertura 4G ou 5G adequadas para atividades operacionais. Este acesso limitado não afeta apenas a produtividade do campo, mas também o desenvolvimento socioeconômico das comunidades rurais.
Portanto, a conectividade é muito mais do que uma ferramenta tecnológica; ela é a chave para transformar o agronegócio brasileiro em um setor mais moderno, eficiente e sustentável. Ao garantir redes de qualidade a estas áreas, o Brasil não só reforça sua posição como líder global no agronegócio, mas também promove o desenvolvimento social e econômico destes locais.
Neste cenário, pequenos e médios agricultores ganham uma ferramenta poderosa para otimizar suas operações, acessar crédito e seguros de forma mais eficiente e, sobretudo, contribuir para um futuro mais sustentável. A conectividade no campo já não é mais um diferencial; é uma necessidade para aqueles que desejam prosperar e continuar a alimentar o mundo com responsabilidade e inovação.
(*) CEO da Agora Distribuidora.