Thais Borges (*)
Há exatos cinco anos, a Deloitte, uma das principais empresas de auditoria do planeta, realizou uma previsão de que o setor tributário seria um dos mais impactados diante do evidente avanço das tecnologias de automação, como inteligência artificial e machine learning.
Passado algum tempo do lançamento do estudo, é possível afirmar com certa tranquilidade que o prognóstico se mostrou verdadeiro. Hoje, é praticamente inviável imaginar qualquer atuação no campo fiscal que não seja fortemente potencializada, sobretudo em fatores como velocidade e assiduidade, pelo aspecto de automação trazido pela tecnologia.
Quando avaliamos a complexidade do sistema tributário brasileiro, marcado por uma legislação extensa e em constante atualização, estamos tratando de um desafio significativo para empresas e contribuintes, ainda mais diante da Reforma Tributária.
Para se ter uma ideia do tamanho do problema, o Brasil lidera o ranking dos 190 países em que as empresas mais gastam tempo apenas para cumprir suas obrigações fiscais. No país, são necessárias em média 1.501 horas de trabalho ao ano, valor quase 50% maior que o segundo colocado.
Mesmo diante da simplificação prevista com a muito provável aprovação da Reforma Tributária, o cenário exige que as indústrias e negócios procurem na tecnologia um poderoso aliado para otimizar processos, reduzir custos e garantir a conformidade fiscal. Aliás, o período de transição que temos hoje e que deve nos acompanhar por mais alguns anos, tende a tornar este auxílio ainda mais crucial.
Atualmente, uma das principais dificuldades enfrentadas por parte das corporações em geral é o cumprimento das obrigações acessórias, que envolvem um volume considerável de dados e informações. A automação de processos, por meio de softwares e sistemas inteligentes, permite agilizar o preenchimento desses documentos, além de minimizar erros e liberar os profissionais para atividades de maior valor agregado.
Outro fator importante está na própria acuracidade dos cálculos, que é potencializada pelas ferramentas. Ao automatizar processos e utilizar algoritmos avançados, é possível reduzir o risco de erros humanos e garantir que os tributos sejam calculados de forma correta. Tal precisão é essencial para a competitividade das empresas, pois permite identificar oportunidades de redução de custos e otimização da carga tributária.
Indo além, recursos como inteligência artificial (IA) e machine learning, por exemplo, possuem uma contribuição maior do que a automação em si, sendo fundamentais também para trazer um viés estratégico para o processo tributário.
Graças a enorme capacidade de analisar grandes volumes de dados, identificar padrões e gerar insights precisos, as tecnologias têm contribuído para que gestores tornem decisões mais assertivas já a partir dos insumos utilizados para o preenchimento de guias – o que é conhecido como big data.
Além da automatização, a criptografia desempenha um papel fundamental na proteção de dados sensíveis, o que ajuda a garantir a segurança e a privacidade das informações, muitas vezes de caráter sigiloso.
Apesar de todos estes benefícios, é sempre importante ponderar que a implementação de soluções tecnológicas na área tributária exige investimentos e uma mudança cultural nas organizações. Além disso, a desigualdade digital no Brasil representa um desafio a ser superado, pois nem todas as empresas e contribuintes têm acesso às mesmas ferramentas e recursos.
A própria Reforma Tributária, ao simplificar a legislação e ampliar a autonomia dos entes federativos, oferece uma oportunidade única para a modernização da gestão tributária. No entanto, é fundamental que os governos invistam em infraestrutura tecnológica e capacitação de profissionais para que os avanços com a nova legislação não fiquem apenas no papel.
A revolução tecnológica no setor tributário é, portanto, inevitável e necessária. Para que as empresas possam navegar com sucesso neste período de transição, é imperativo que invistam em soluções tecnológicas que automatizem processos e potencializem a acurácia e a segurança das operações fiscais.
Somente assim será possível garantir a regularidade fiscal, a competitividade no mercado e o pleno aproveitamento das novas regras introduzidas pela Reforma Tributária.
(*) – É diretora comercial da Systax (https://www.systax.com.br/).