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Blockchain resgata confiança em transações financeiras

em Manchete Principal
quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Cristiano Oliveira (*) e Tiago Piassum (**)

A confiança é o alicerce sobre o qual se constroem relações sociais, econômicas e políticas. Tradicionalmente, a gestão da confiança tem sido centralizada em instituições estatais, como governos, cartórios e órgãos reguladores. Essas entidades são responsáveis por assegurar a execução de contratos e a proteção dos direitos de propriedade dos cidadãos.

O panorama global, no entanto, tem mudado rapidamente, e outros formatos de negócio apareceram como alternativas confiáveis. Nos últimos anos, temos observado um declínio na confiança das pessoas nas instituições estatais.

Escândalos de corrupção, ineficiências administrativas, morosidade, falta de transparência e a percepção de que essas instituições não conseguem acompanhar a evolução tecnológica têm contribuído para essa crise de confiança. Isso levanta uma questão crucial: como podemos restaurar e fortalecer a confiança em um mundo cada vez mais complexo e interconectado?

É nesse contexto que a tecnologia blockchain surge como uma solução potencialmente transformadora e capaz de reduzir significativamente os custos de transação. A blockchain é uma forma de registro distribuído e imutável, que oferece uma alternativa confiável que não depende de autoridades centrais. Em vez disso, ela opera em uma rede descentralizada onde cada transação é verificada por múltiplos participantes, garantindo assim maior transparência e segurança.

Essa nova abordagem tecnológica desafia o papel tradicional das instituições estatais na construção e manutenção da confiança em uma sociedade. Historicamente, as instituições estatais têm sido estabelecidas de forma compulsória como guardiãs monopolistas da confiança pública, garantindo que as interações sociais e econômicas ocorram de maneira justa e previsível. No entanto, essa confiança não foi conquistada, mas imposta por força de lei.

Uma pesquisa da Pew Global Research de 2017 ilustra o nível de confiança nas instituições governamentais em diversos países. O levantamento mostra que, em países latino-americanos, apenas 24% da população confia que o governo fará o que é certo para o país, com um número muito próximo de zero demonstrando confiança plena.

Este baixo nível de confiança é sintomático de problemas estruturais como corrupção e ineficiência administrativa. Os fatores não apenas minam a confiança pública, mas também afetam negativamente o desenvolvimento econômico e a coesão social.

Neste cenário de desconfiança, a tecnologia blockchain surge como uma peça chave. A blockchain é uma tecnologia de registro distribuído que permite a criação de um livro-razão digital seguro e transparente. Cada transação ou registro é verificado por uma rede de computadores, eliminando a necessidade de uma autoridade central.

Este mecanismo de consenso garante que todos os participantes da rede tenham acesso a uma versão única e inalterável dos dados, aumentando significativamente a confiança nas transações. Ao oferecer uma maneira de gerenciar a confiança de forma descentralizada e imutável, a blockchain elimina a necessidade de intermediários.

A tecnologia pode ser aplicada em diversas áreas que tradicionalmente dependem de intermediários centralizados, como registros públicos e órgãos reguladores. A segurança da blockchain é baseada em criptografia avançada, que protege os dados contra acesso não autorizado, deixando-os menos vulnerável a ataques cibernéticos.

Cada transação é registrada em um bloco visível a todos os participantes da rede. Uma vez que um bloco é adicionado à cadeia, ele não pode ser modificado ou excluído, garantindo a imutabilidade dos registros. O fato dos blocos não passarem por alterações é fundamental para assegurar que todas as atualizações sejam verificáveis e seguras, aumentando a confiança na autenticidade dos registros e reduzindo o risco de falsificações.

Nesse contexto, instituições de registro podem ser substituídas ou ter suas funções integradas na blockchain, permitindo que transações de imóveis e outros registros sejam realizadas de maneira mais rápida e eficiente. Essa mudança pode reduzir significativamente os custos associados, especialmente aqueles relacionados à verificação de documentos de papel.

Além disso, a solidez da blockchain dificulta a ocorrência de fraudes nos registros públicos e cartoriais. Uma vez que um registro é adicionado à blockchain, ele não pode ser alterado ou excluído sem o consenso da rede, garantindo que qualquer tentativa de fraude ou manipulação seja facilmente detectada e corrigida.

A adoção da blockchain não é apenas uma solução tecnológica: o uso do processo é uma importante mudança de paradigma na forma como gerimos a segurança. Ao utilizar a tecnologia, construímos um futuro em que a confiança não é imposta por intermediários centralizados, e sim por um sistema que beneficia a todos.

Grandes instituições financeiras abriram seus olhos para a tecnologia, que já está sendo implementada em suas operações. Nos próximos anos, a blockchain se tornará uma das principais ferramentas na missão de restaurar a confiança pública e reduzir custos de transação, marcando um avanço significativo para a sociedade como um todo.

Com a blockchain, temos a oportunidade de restaurar a confiança pública, reduzir custos de transação, melhorar a eficiência dos processos e criar um ambiente mais seguro e confiável para transações e registros de direitos de propriedade, marcando um avanço significativo para a sociedade como um todo.

(*) – É Professor Associado na UFRG e Head of Research na Rivool Finance
(**) – É CEO e Founder da Rivool Finance (https://rivool.finance/).