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Práticas chinesas não estão funcionando nos Estados Unidos

em Tecnologia
sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Preocupada com uma possível invasão de Taiwan pela China, e aproveitando os generosos incentivos financeiros concedidos pelo governo americano através do CHIPS and Science Act, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), uma das maiores fabricantes de chips do mundo, está construindo uma unidade fabril no Arizona.

Vivaldo José Breternitz (*)

Mas a empresa vem enfrentando dificuldades para colocar suas novas instalações em funcionamento, o que deve acontecer apenas em 2025, com mais de uma ano de atraso. A maior dessas dificuldades é uma diferença fundamental entre Taiwan e os Estados Unidos: a cultura de trabalho, como relata o New York Times.

No Arizona, a TSMC vem tentando fazer as coisas ao estilo taiwanês, impondo condições de trabalho extremamente rigorosas, incluindo jornadas de 12 horas que se estendem aos fins de semana e com frequência convocando funcionários no meio da noite para atender a emergências. Seus gerentes são conhecidos por tratar os trabalhadores de forma dura, ameaçando demiti-los por falhas relativamente pequenas.

A TSMC parede estar aprendendo que essas práticas não funcionam nos Estados Unidos – relatos recentes indicam que muitos funcionários tem se demitido em função de estilo de gerência, e a TSMC está encontrado dificuldades para preencher essas vagas, nesse momento dependendo fortemente de funcionários trazidos de Taiwan, que são quase metade dos atuais 2.200 funcionários da nova fábrica.

A TSMC reservou US$ 65 bilhões para a fábrica no Arizona, além dos US$ 6,6 bilhões recebidos do governo americano – o projeto deve criar 6 mil novos empregos.

“Queremos este seja um local bem-sucedido e sustentável”, disse Richard Liu, diretor de comunicações e relações com funcionários da fábrica americana – “Sustentável significa que não podemos continuar dependentes de Taiwan enviando pessoas para cá.”

Em função das vagas oferecidas pela TSMC, universidades da região reforçaram seus currículos em áreas como engenharia elétrica e de computação, e a empresa tem colaborado com essas instituições, oferecendo estágios, projetos de pesquisa e feiras de carreiras.

Tentando superar o choque cultural, a TSMC tem enviado funcionários dos americanos para Taiwan, para que conheçam seus métodos de trabalho, bem como colocando seus gerentes chineses em programas de treinamento que os ajudem a trabalhar melhor com funcionários americanos.

É bom lembrar que para superar diferenças culturais são necessários soft skills, cada vez mais importantes no ambiente empresarial, mas também que a frase latina citada pelo poeta Virgílio, “labor omnia vincit” (o trabalho vence tudo), nos dá, e às organizações, o caminho para a superação de tempos difíceis.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].