Ao se falar em espionagem, veem à mente imagens de gadgets de alta tecnologia, reuniões secretas e perseguições emocionantes, mas a espionagem hoje, especialmente a cibernética, é bem menos glamourosa, mas altamente eficaz.
Vivaldo José Breternitz (*)
Hackers patrocinados por estados, como China e Coréia do Norte, operam de forma profissional, mirando sistemas estratégicos para obter informações sensíveis – não se fala nisso por aqui, mas certamente americanos, ingleses e hackers ligados a países ocidentais, devem atuar de forma similar.
O assunto não é muito comentado no Brasil, mas no início de 2024, a inteligência holandesa descobriu um malware sofisticado, um Trojan de Acesso Remoto (RAT), que fazia parte de uma campanha chinesa de espionagem cibernética, batizada COATHANGER, que visava sistemas governamentais, atividades diplomáticas e empresas da indústria de defesa em todo o mundo.
Em 2022 e 2023 a COATHANGER se infiltrou em mais de 20 mil computadores de diversos países – apesar da importância do fato, a cobertura da mídia foi limitada, ofuscada por ataques de ransomware que chamaram mais a atenção do grande público.
A espionagem cibernética, roubando propriedade intelectual valiosa e segredos de diversas áreas, tem implicações significativas para a Holanda, onde são fabricados componentes críticos para a indústria de computadores. Nesse país, estão baseadas empresas como a NXP, que se dedica ao design e fabricação de chips e a ASML, a maior fabricante mundial de máquinas para a produção de chips.
Defender-se da espionagem cibernética é desafiador e caro; a vigilância e o comprometimento constante são necessários, mas as organizações muitas vezes só os adotam depois de incidentes ou para atenderem a determinações governamentais, que deveriam ser mais rigorosas, ao menos nos casos de estruturas vitais como serviços de luz, água, hospitais, segurança e outros similares.
No caso da Holanda, sua importância estratégica vai além dos semicondutores – o país é também maior hub marítimo da Europa, razões pelas quais deve reforçar sempre suas estruturas de cibersegurança.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].