Heródoto Barbeiro (*)
O placar da morte está em três a um.
Três políticos republicanos morreram abatidos por tiros. Um democrata também morreu da mesma forma. O motivo dessa violência é que os atiradores não concordam com as atitudes do presidente dos Estados Unidos diante do governo. Por se constituir em uma nação federalista, os estados têm ampla autonomia e podem bater de frente contra decisões do governo federal. Essas divergências podem descambar para conflitos mais sérios, como a guerra civil americana.
Uma das formas de mudar os rumos do país, na cabeça de assassinos, é matar o presidente do país, ou o candidato à presidência, o que obriga a ascensão ao Poder Executivo, ou à campanha eleitoral, de outro político. O porte de arma pelos cidadãos está garantido pela Constituição dos Estados Unidos da América, e por isso não é ilegal andar armado, comprar munição e treinar pontaria em clubes de tiros.
O Poder Executivo nos Estados Unidos não tem a mesma concentração de poder que têm os presidentes das repúblicas latino-americanas. O Congresso, encastelado no Capitólio, concentra o poder, uma vez que tem o orçamento nas mãos. Os embates entre democratas e republicanos em nenhum momento põe em risco a estabilidade do país. Apesar de terem visões de mundo diferentes, são as duas faces do mesmo sistema.
O presidente tem poderes limitados e sua atuação, mais visível, geralmente se concentra na política externa do país. Os partidos se aturam um ao outro e, além disso, a legislação eleitoral admite candidaturas independentes que têm pouco apoio popular e econômico, haja vista que a campanha eleitoral é custeada pelo próprio candidato ou com doações de poderosos grupos econômicos.
As pesquisas eleitorais apontam que ele deve vencer a eleição e ser o novo presidente dos Estados Unidos. A campanha eleitoral parte para a radicalização – e republicanos e democratas se acusam mutuamente pelas derrotas sofridas pelo país no cenário internacional. A ameaça da União Soviética é cada vez mais consistente. A guerra do Vietnã chega às salas das famílias americanas graças à televisão. O presidente assassinado, John Kennedy, aprofundou o país na guerra contra a guerrilha do vietcongue. A eleição de 1968 pode dar aos Estados Unidos o terceiro presidente do partido democrata. Lança-se candidato Robert Kennedy, irmão de John. Ele é rotulado como um liberal radical, inspirado nas ideias do democrata Franklin Roosevelt e tem apoio de camadas mais pobres do país.
Contudo, os republicanos estão atentos para impedir a eleição de um terceiro democrata e partem para a campanha eleitoral com o nome de Richard Nixon. Robert está alerta quanto aos atentados, tanto o que matou seu irmão, como o líder de direitos civis dos negros, o pastor Martin Luther King. Em seu programa consta apoio a Israel na luta contra os países árabes, na guerra dos Seis Dias de 1967. Isso desgosta profundamente o palestino jordaniano Sirhan Sirhan, que se aproveita da presença de Robert Kennedy na cozinha do hotel onde trabalha e o assassina com seis tiros. Robert tem apenas 42 anos.
Sua morte abre caminho para os republicanos. Sirhan é condenado à prisão perpétua, mas, depois de 53 anos, obtém o direito à liberdade condicional.
(*) – É âncora do Jornal Nova Brasil e colunista do R7, apresentou o Roda Viva na TV Cultura, Jornal da CBN e Podcast NEH. Tem livros nas áreas de Jornalismo, História. Mídia Training e Budismo www.herodoto.com.br.