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Oito fatores essenciais para a escolha da carteira de ações

em Destaques
quarta-feira, 24 de julho de 2024

Ângelo Belitardo (*)

Montar uma carteira de ações de longo prazo não é uma tarefa fácil, até porque há muitos fatores de riscos envolvidos que podem resultar em prejuízos no futuro. Mas seguindo alguns critérios básicos, é possível reduzir a probabilidade de um revés e obter uma boa rentabilidade. Aqui elencamos oito fatores que não podem ser desconsiderados como critério de escolha.

1 – Setor de atuação – Ao investir em ações de empresas e buscar por consistência de retornos é necessário priorizar companhias presentes em setores resilientes, cuja receita da companhia é reflexo de um consumo constante e obrigatório por parte da população. Grande parte dessas empresas é capaz de repassar a inflação ao consumidor final, protegendo suas margens de lucro.

Dentre os setores mais resilientes da bolsa de valores, nós da Hike Capital vemos como os mais promissores: bancos, seguros, geração e transmissão de energia, saneamento, farmácias, transporte ferroviário e rodoviário para pessoas e cargas, aluguel de veículos e equipamentos, papel e celulose, mineração, siderurgia, grãos e sementes.

2 – Posicionamento no mercado – Com o objetivo de mitigar os riscos advindos da competição agressiva entre empresas, é importante selecionar companhias líderes de mercado, que se destacam na diferenciação e na qualidade com a qual entregam seus produtos ou serviços aos clientes.

O elevado volume de recursos necessário para abrir uma nova companhia igual a Sabesp, maior empresa de saneamento do país, reflete em uma forte barreira de entrada contra novos concorrentes, e protege as margens de lucro da companhia.

3 – Cenário regulatório e fiscal – É imprescindível que o investidor acompanhe e escolha setores que sejam, em grande parte, protegidos contra possíveis mudanças em políticas regulatórias e aumento agressivo de impostos que afetem os níveis de lucro da empresa na qual investir.

4 – Alavancagem – O investidor deve selecionar empresas que possuem um baixo nível de endividamento e baixa necessidade em captar dívidas para financiar a manutenção e crescimento de sua atividade. Empresas com alavancagem (Dívida Líquida / EBITDA) inferior à 2,5x lucro (EBITDA) reduzem a vulnerabilidade de seu lucro frente a taxa de juros e inflação e preservam a distribuição constante de dividendos.

Não obstante, o investidor deverá averiguar se não existem dívidas de caráter trabalhista, tributárias e judiciais que possam afetar a lucratividade da companhia alvo de investimento.

5 – Retorno anual do modelo de negócios da companhia – O ROIC atual e projetado para os próximos anos, indicador que mensura o retorno atribuído ao modelo de negócios da companhia, deve ser superior ao CDI atual, para que o investidor opte por investir nas ações ao invés de investir na renda fixa e lucrar com o CDI. Conforme a companhia entrega um ROIC superior ao seu custo de capital (WACC), dizemos que ela cria valor ao acionista.

Ações de empresas descontadas e que geram valor são ótimas oportunidades para ganhos consistentes e agressivos na bolsa de valores. Para o cálculo do ROIC é feita a divisão entre o lucro operacional após os impostos (NOPAT) e o volume de capital investido na atividade da companhia (capital de giro + base de ativos fixos).

6 – Rendimento dos Dividendos – O preço máximo a ser pago numa ação deve refletir em um rendimento de dividendos para os próximos 12 meses de, no mínimo, 6% ou superior à taxa do CDI atual. O investidor deverá entender se não existem projetos custosos e que exijam elevados volumes de recursos para serem implementados, por parte da companhia, no curto prazo, e que possam impactar na distribuição de proventos para o curto prazo.

7 – Rendimento do fluxo de caixa livre ao acionista – O rendimento do fluxo de caixa livre mensura o valor disponível no caixa da companhia após descontadas todas as obrigações financeiras assumidas, sendo uma das principais métricas para avaliar a consistência dos dividendos. Quanto maior for o rendimento do fluxo de caixa livre para os próximos anos quando comparado ao CDI atual, melhor será o comportamento das ações da companhia assim como maior serão os seus dividendos.

8 – Políticas de remuneração executiva – Como os executivos da companhia se auto remuneram? O valor da remuneração paga aos profissionais que lideram a empresa deve estar alinhada à cultura da empresa, da geração de caixa e ao risco inerente ao negócio.

A avaliação criteriosa para a escolha das ações que vão compor sua carteira de longo prazo é essencial para reduzir os riscos futuros, mas não garantia de rentabilidade eterna. É importante destacar que a carteira não deve ser estática, ou seja, de tempos em tempos, deve-se avaliar o desempenho das ações e verificar as mudanças de fundamentos, sempre atento a novas oportunidades do mercado.

(*) – É gestor da Hike Capital (https://www.hike.capital/).