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A manutenção da vida em tragédias da natureza

em Agronegócio
terça-feira, 16 de julho de 2024

Marco Juarez Reichert (*)

Conceito
A maioria de nós já passou por uma situação emergencial, como uma doença repentina de algum familiar próximo ou de nós mesmos, um acidente, um equipamento que quebrou ou a perda do emprego, algo bem comum, dentre tantas outras possibilidades. A consequência é que temos que desembolsar algum valor, que pode ser bem significativo e que nem sempre dispomos de tais recursos. Nenhuma novidade até aqui. Mas, como fazer para poder contar com um valor que cumpra esta necessidade? A resposta, de forma bem simples e objetiva, é: Acumulando uma reserva de emergência, como primeira medida financeira e desde o seu primeiro salário ou renda. Sim, desde que você passou a receber algum valor pelo seu trabalho. Para pessoas de baixíssima renda estas recomendações não se aplicam, na maioria das vezes, já que mal sobrevivem com toda a renda auferida se é que recebem.

Nossa formação escolar não costuma nos preparar para a gestão financeira em nossas vidas. Salvo algumas poucas iniciativas, não é o que se observa de forma geral, infelizmente. Uma reserva de emergência deverá ser capaz de arcar, por um certo tempo, com todas as despesas mensais que temos e precisamos para manter a mesma vida digna que vínhamos tendo, exceto as extravagâncias. Estas são dispensáveis e podemos viver sem elas.

Enquanto não houver atingido este objetivo, não é hora de pensar em investimentos, como mercados de ações, derivativos e criptomoedas. Nem mesmo a troca de carro por uma versão mais nova. A hora é de guardar. Depois de conquistar sua meta, aí pode pensar em investir.
 
Tempo para formar uma reserva de emergência
Pergunta recorrente: Para quantos meses esse “pulmão” deve ser capaz de nos manter? Cada um de nós tem o seu tempo. De uma forma geral, as recomendações ficam entre seis e doze meses. Depende da empregabilidade nossa. Se você acredita, firmemente, que levaria no máximo doze meses para conseguir outro emprego equivalente, então este é o período que sua reserva deverá atender. Tragédias da natureza – sem falar da culpa da população e de seus gestores públicos − como a que assolam o sul do Brasil neste maio de 2024, a exemplo, é um caso em que a maioria das pessoas não tem nenhum recurso com esse objetivo e como isso faz falta agora e fará até que consigam outra fonte de renda. Muitos dos empregos na região deixaram de existir da noite para o dia. Claro que a maioria mal tinha para suas necessidades básicas, muitos nem para isso. Entretanto, muitos foram os microempresários que perderam tudo. Como viverão até colocarem em marcha uma nova atividade? A reserva de emergência é para esse tipo de imprevisibilidade também.
 
Lições para formar sua reserva financeira de emergência

  1. Consciência
    Se não tivermos a compreensão dessa medida de prevenção, ela não vai funcionar. Você guarda parte do seu ganho por dois ou três meses e depois desconsidera a possibilidade de que algo ruim possa, realmente, lhe acontecer? Não se pode dar chance para o azar.  Ele costuma aparecer para os desprevenidos.
     
  2. Disciplina
    Estando firme no propósito de cumprir seu objetivo e com uma meta clara, desafiante e atingível, restrinja seu gasto mensal a um percentual constante do seu salário. De 10% a 30%. Se for demasiado, do quanto puder. Ter a disciplina de aplicar em si mesmo é fundamental. Quando receber seu salário, considere que você tem uma obrigação, como se fosse um débito de conta automático. Ela precisa ser reservada nesse momento. Se você recebe um salário de 3 mil reais por mês, deveria reservar de 300 reais (mínimo) a 900 reais, mensalmente, sem falhar. Se puder mais, melhor ainda. Aqui está o maior desafio. Seus gastos, que até então somavam 3 mil reais a cada mês, agora não poderão ser maiores do que este valor, deduzido da parcela que você vai guardar, religiosamente. O seu gasto total, a partir de agora, deverá caber neste novo valor líquido.

Outro aspecto que requer forte disciplina: não tocar nesta reserva para fazer novos gastos. Uma vez que ela estiver formada, precisa ser mantida.

  1. Redução dos gastos
    Pode doer para se reduzir gastos, principalmente para quem recebe salários menores. Para começar, é preciso listar todos os gastos mensais, sem exceção. Aqueles de menor importância e mesmo dispensáveis, são os primeiros que devem ser eliminados. Digamos que você, de classe média, costuma passar um final de semana por mês em uma pousada. Tente diminuir a frequência.  Ande mais de metrô e menos de automóvel ou aplicativo. Quem sabe um restaurante mais barato? Precisa tomar quatro cervejas no final de semana? Não poderiam ser apenas duas? Você tem um combo de internet, TV e telefonia fixa e digital? Precisa mesmo de tudo isso? Alguém já dizia que somos fruto de nossos atos.
     
  2. Tipo de aplicação financeira
    Diferentemente de um investimento (longo prazo), a reserva de que estamos tratando não tem a rentabilidade como uma grande preocupação. O que realmente importa é a sua liquidez. O prazo para sacar o valor que você acumulou para este fim deve ser imediato – D+0 ou D+1 (no próprio dia, ou no dia seguinte). Se o que você guardou para uma situação emergencial não puder ser sacado em um dia útil, sua escolha de aplicação foi equivocada, pois perdeu a finalidade.

Outro quesito básico é a segurança do seu capital. Por esta razão é recomendável que se aporte em alguma modalidade de renda fixa. Como algumas opções bem conhecidas, temos o CDB, a poupança e o Tesouro Selic.

CDB e Poupança estão assegurados pelo Fundo Garantidor de Crédito, até o valor de 250 mil reais, por CPF, por instituição financeira. Se optar por um CDB em alguma Cooperativa de Crédito, a segurança é a mesma, mas do Fundo Garantidor do Cooperativismo Financeiro (FGCOOP). A poupança não tem incidência de Imposto de Renda (IR), já o CDB tem. Em termos de remuneração, a poupança é a pior opção de todas, pois paga apenas 70% da taxa Selic. Os CDB são pagos por uma taxa (CDI), que, praticamente, acompanha a taxa Selic. Então o mínimo que alguém deveria fazer, é optar por um CDB que remunere o mais próximo possível de 100% do CDI. Valores pequenos aplicados não conseguem boas taxas, mas à medida que o total investido vai ganhando corpo, o poder negociação aumenta e se consegue taxas um pouco melhores. Mas, atenção:  procure bem as opções, inclusive quanto às taxas que a instituição financeira queira cobrar para você aplicar nesta opção. Mesmo com o IR, seu CDB (com mínimo de 100% do CDI) terá rendimento superior ao pago pela poupança. Ressalta-se que a Selic do Tesouro Direto pode ser a melhor escolha, já que é a modalidade mais segura de todas (risco soberano do país), superior mesmo ao FGC. Sobre o Tesouro Selic, vale as mesmas regras de IR de um CDB. Se sacar em menos de seis meses, o rendimento será tributado em 22,5%, chegando ao mínimo de 15%, se aplicado por pelo menos 720 dias. Esta modalidade do Tesouro Direto também tem liquidez imediata.

As informações acima são baseadas na experiência deste autor e fica a recomendação de que elas sirvam apenas para orientação. Cada um deve se informar para saber aquilo que melhor lhe sirva.
 
Feita a reserva de emergência, devidamente aplicada em alguma instituição financeira, siga com a disciplina de não tocar nela, salvo extrema necessidade. Doravante, inicie um plano de investimentos para seu futuro, onde você vai procurar diversificar seus investimentos, tendo feito uma boa avaliação do seu perfil. Bom planejamento de vida!

(*) CTO e cofundador da Diferente. Com mais de quinze anos de experiência em desenvolvimento de software, gerenciamento de projetos e liderança, é formado em Sistema de Informação pela Universidade Federal do Paraná e já foi professor na mesma instituição.