Johnny Mendes (*)
Em junho, o dólar já avança 2%, acumulando uma valorização de 10,4% contra o real em 2024. Este movimento de alta acende um alerta entre economistas e gestores financeiros, que não esperam uma melhora acentuada no curto prazo. O temor em relação aos mercados emergentes e a percepção de risco local levaram o câmbio doméstico a mais uma sessão de desvalorização firme.
No pior momento das negociações, o dólar à vista chegou a se aproximar de R$5,39, com o possível acionamento de mecanismos de “stop loss”, que encerram operações após atingir determinadas perdas. A permanência do dólar na faixa entre R$5,35 e R$5,40 por mais tempo deve ampliar a pressão sobre os preços, dificultando a tarefa do Banco Central (BC) de trazer a inflação à meta e pressionando os juros de mercado.
A manutenção da taxa de juros americana em patamares elevados é um dos fatores externos que contribuem para a valorização do dólar. A expectativa inicial era que a taxa de juros caísse no primeiro semestre de 2024, ou na pior das hipóteses, no segundo semestre. No entanto, as taxas permanecem elevadas, entre 5% e 5,25%, tornando os títulos públicos americanos mais atrativos para os investidores. Além disso, o real tende a se desvalorizar quando há um maior volume de importação, aumentando a demanda por dólares.
Quando a moeda se valoriza, há um incentivo maior para a exportação brasileira. O Brasil, com seus principais produtos agrícolas, como carnes, vê um aumento nas exportações devido à desvalorização do real. Empresas como JBS, Marfrig e Minerva, maiores produtoras de carnes do mundo, preferem exportar a manter seus produtos no mercado interno. Isso resulta em menor oferta e aumento dos preços no mercado brasileiro, impulsionando a inflação.
Nos últimos meses, os alimentos têm sido o principal motivo da manutenção de uma inflação alta, contrariando as expectativas iniciais. Esse cenário mantém a taxa Selic elevada, desestimulando o crescimento e investimentos. Grandes empresas brasileiras, com capital aberto na B3, e multinacionais instaladas no Brasil, tendem a reduzir seus investimentos devido aos altos custos de financiamento.
Esse ambiente desafiador não só afeta as grandes corporações, mas também as pequenas e médias empresas que prestam serviços a elas. A redução do apetite por contratações pode resultar em aumento do desemprego, prejudicando ainda mais a economia. A expectativa de crescimento do PIB brasileiro para este ano e para 2025 é sombria, refletindo diretamente nos próximos anos.
A incerteza econômica global, principalmente a volatilidade do dólar, causa desconfiança e prejuízos para qualquer nação, empresa ou governo. Nos próximos meses, essa volatilidade deve continuar impactando diretamente as decisões econômicas. Se a inflação americana aumentar, a taxa de juros pode subir ainda mais, dificultando a recuperação econômica no Brasil. Por outro lado, uma eventual queda na inflação e nos juros americanos pode atrair capital estrangeiro de volta ao Brasil, aliviando a pressão sobre a inflação e permitindo uma redução na Selic.
Contudo, essas possíveis melhorias só devem ocorrer a partir do primeiro semestre de 2025. Até lá, o cenário econômico permanece incerto e desafiador. A volatilidade cambial e a alta dos preços continuarão sendo os principais obstáculos para o crescimento e estabilidade econômica do Brasil.
(*) – Especialista em Economia, é professor da Faculdade do Grupo Etapa.