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As carteiras digitais e a digitalização da economia

em Destaques
terça-feira, 04 de junho de 2024

Felipe Barros (*)

Carteiras digitais são dispositivos eletrônicos ou serviços on-line que permitem o armazenamento, o gerenciamento e o compartilhamento de dados, arquivos, ativos e informações pessoais diversas, geralmente relacionadas a pagamentos e transações. Essencialmente, trata-se da versão digital de uma carteira física.

As carteiras eletrônicas armazenam informações do usuário de maneira segura, como detalhes de cartões de crédito ou da conta bancária e histórico de transferências financeiras. Assim, tornam os pagamentos on-line mais ágeis, eficientes e confiáveis, fazendo com que seja mais rápido e fácil para os usuários fazerem compras na internet instantaneamente, sem a necessidade de inserir detalhes de pagamento todas as vezes ou aguardar horas para o processamento e a confirmação das transações.

Isso se torna particularmente relevante quando estes usuários passam grande parte de seu tempo on-line e realizam uma grande quantidade de microtransações e microinterações digitais praticamente incessantes, a todo momento, e, portanto, precisam contar com redes, ambientes e conexões confiáveis para estabelecer relacionamentos sólidos na internet.

Não apenas dinheiro, mas todo tipo de informação pode ser armazenado em e-wallets, como bilhetes, títulos, ingressos, identidades, documentos e credenciais diversas, cartões de fidelidade e benefícios em programas de recompensas, direitos de acesso e tudo o mais o que se possa imaginar e que se possa ser representado digitalmente, incluindo-se dados biométricos, obras de arte, colecionáveis e registros históricos variados.

Entre suas principais características, estão as medidas de segurança reforçadas e frequentemente baseadas em criptografia, que buscam garantir que estes dados sensíveis estejam protegidos e sejam invioláveis, além de funções como a comunicação por campo de proximidade (NFC), os leitores de QR Code ou a integração com diferentes serviços, meios e plataformas de pagamento, permitindo transações contínuas e integradas.

Carteiras digitais podem existir em diferentes formas, incluindo as baseadas em software (apps ou programas) ou hardware (dispositivos especializados ou chips seguros em telefones móveis). Algumas também permitem que os usuários façam transações diretamente entre si, de ponto a ponto, enviando, recebendo e trocando ativos.

Enfim, temos carteiras de couro e de papel, digitais e analógicas, carteiras em bancos e corretoras, carteiras mobile e desktop, software e hardware, carteiras web e carteiras web3. O dinheiro foi de moedas e cédulas a píxeis, bits e sinais elétricos carregados de informação no aplicativo do seu banco. E esse é apenas o começo da história das carteiras digitais.

Em muitas regiões, especialmente as economicamente desfavorecidas e geograficamente distantes, onde a infraestrutura bancária tradicional é menos presente, as carteiras digitais desempenham um papel crucial na inclusão financeira, permitindo que os usuários tenham serviços semelhantes aos bancos digitais sem ter uma conta bancária tradicional, acessando o sistema financeiro global.

A conveniência, rapidez e segurança aprimorada que oferecem tornaram-nas especialmente populares entre os consumidores mais jovens e familiarizados com a tecnologia, em áreas com alta penetração de smartphones e internet, como é o caso do Brasil contemporâneo.

As transações financeiras digitais agora são uma realidade e, durante a pandemia, ultrapassaram, em muitos países (incluindo-se o território brasileiro) as transações com dinheiro físico e cartões. Isso mesmo, no Brasil hoje, carteiras digitais movimentam mais volume financeiro que dinheiro físico, cartões de crédito, débito e cheques, todos os meses.

No entanto, em muitos aspectos estas ferramentas ainda são insuficientes para garantir real controle dos usuários sobre os seus ativos físicos e digitais, bem como interoperabilidade e integração total entre estes diferentes sistemas, tornando as validações das informações, identidades, transações e interações lentas e ineficientes.

Esses são alguns dos pontos direcionados pelas chamadas carteiras digitais Web3, que oferecem novas opções aos seus usuários, desempenhando papel fundamental no ecossistema da internet descentralizada, oferecendo funcionalidades muito além das carteiras digitais tradicionais e possibilidades como autocustódia, desintermediação, suporte a ativos tokenizados e construção de soluções de código aberto e sem permissão.

Na Web3 as carteiras digitais funcionam como identidades digitais descentralizadas e autossoberanas. Ela é a sua credencial para interagir com sites, plataformas e aplicações diversas, tal qual um e-mail, que funciona como forma de Login (cadastro) simplificado em qualquer página hoje.

Através dela, você pode armazenar dados e informações de qualquer tipo (inclusive dados bancários e de pagamento), enviar e receber mensagens ou transferir e armazenar ativos digitais de toda espécie, interagindo tanto com o sistema bancário centralizado tradicional, quanto com o sistema financeiro global descentralizado com transparência e privacidade.

Assim, é possível interagir com uma grande diversidade de tipos de ativos, sites, softwares, aplicações, plataformas e protocolos diferentes, a partir de uma única ferramenta. A digitalização da economia é real e as carteiras digitais fazem parte deste processo irreversível.

Em meio ao acelerado processo de intensa digitalização do cotidiano, elas estão redefinindo os meios de pagamento, a nossa relação com a internet, com os ativos e com a propriedade digital em si.

(*) – É Head de educação e pesquisa da DUX, startup de Web3 (https://wearedux.com).