Verônica Magariños (*)
No contexto empresarial contemporâneo, a equidade de gênero emerge como um princípio central e uma meta aspiracional para organizações — contudo, alcançar essa igualdade não é um caminho isento de desafios. Mesmo as empresas mais bem-intencionadas podem se deparar com armadilhas sutis que minam seus esforços para promover uma cultura inclusiva, especialmente em relação à maternidade.
Uma dessas falhas é a falta de compreensão das necessidades específicas das mulheres. Ao se tornarem mães, elas enfrentam uma série única de adversidades, desde o equilíbrio entre as demandas profissionais e pessoais até questões de saúde mental. Entre tantas outras coisas, a maternidade significa carregar um filho por nove meses, dar à luz e amamentar esse pequeno ser nos primeiros meses de vida, sendo seu único sustento.
É a origem das nossas vidas, sem distinção de gênero. Imagine tentar encaixar algo tão significativo dentro deste sistema capitalista de estágio tardio em que vivemos, com o objetivo de manter a produtividade e a eficiência.
Portanto, implementar políticas de igualdade de gênero sem considerar essas nuances pode resultar em medidas que falham em abordar, de forma eficaz, as barreiras enfrentadas no local de trabalho. Nesse sentido, é importante criar espaços seguros onde as pessoas possam compartilhar suas vulnerabilidades sem medo de julgamento, além de realizar políticas claras de não retaliação e encorajamento ativo à partilha de desafios pessoais e profissionais.
Outro aspecto fundamental frequentemente negligenciado é a interseccionalidade. Estratégias genéricas e padronizadas não levam em consideração as necessidades específicas de diferentes grupos, resultando em soluções ineficazes ou até mesmo alienantes.
Em vez disso, organizações devem adotar uma abordagem personalizada e flexível, que reconheça e responda às diversas realidades, criando culturas organizacionais nas quais podemos alcançar nosso pleno potencial — não apesar da maternidade e do que ela implica para o sistema de trabalho, mas junto a ela, como uma realidade maravilhosa que tira todo mundo da zona de conforto, e da fantasia de ordem e previsibilidade dos afazeres humanos.
A pesquisa “Retenção de mulheres pós licença maternidade”, realizada em 2020, pelo Movimento Mulher 360, indicou que 98% das mulheres mudaram a forma como veem o trabalho depois de se tornarem mães, adquirindo um novo sentido de potencialidade e importância; e 50% disseram que o maior desafio no retorno é lidar com o gestor.
Diante deste cenário, fomentar a empatia no local de trabalho é essencial para promover conexões humanas significativas. Isso pode ser alcançado por meio de treinamentos que ajudem líderes e colaboradores a desenvolver a capacidade de entender e compartilhar os sentimentos dos outros.
Não há dúvidas de que promover a equidade de gênero requer um compromisso genuíno e visível, não só dos líderes, como da alta gestão. Isso deve impulsionar mudanças reais e significativas na cultura organizacional, e criar um ambiente de trabalho que valorize o bem-estar de todos os funcionários.
Para superar as armadilhas e promover uma verdadeira equidade de gênero, as empresas precisam adotar uma abordagem cuidadosamente planejada. Isso envolve ouvir atentamente as vozes das mulheres em todos os níveis da organização, engajar-se em diálogos abertos e honestos, além de criar um ambiente que valorize e apoie plenamente a contribuição feminina.
Somente assim as instituições podem avançar em direção a uma cultura de equidade, onde todas as pessoas, independentemente de seu gênero ou circunstâncias pessoais, possam prosperar e alcançar seu pleno potencial.
(*) -É Head da Hyper Island Habla Hispana, consultoria global especializada em jornadas de aprendizado e transformação (https://www.hyperisland.com.br/).