Um estudo produzido pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) destaca um aumento significativo no uso do transporte público, após a implementação da tarifa zero. A pesquisa, em uma amostra de 12 cidades brasileiras, indica que todas as cidades registraram aumento da demanda por viagens de ônibus, que variou de 33% a 371%, após a adoção da tarifa zero.
O estudo indica ainda que a tarifa zero vem sendo adotada por cidades pequenas: 71% das cidades brasileiras que implementaram a tarifa zero no transporte público possuem menos de 50 mil habitantes. No total, 124 municípios adotaram essa política, com 106 (85,5%) aplicando-a de forma universal, em todas as linhas e em todos os dias da semana.
Francisco Christovam, diretor executivo da NTU, avalia que “a tarifa zero promove uma maior mobilidade e acessibilidade, facilitando deslocamentos para as atividades essenciais no ambiente urbano, em diferentes horários do dia, não só em horário de pico. Por outro lado, tarifa zero significa o subsídio de 100% da operação por parte das prefeituras, o que complica muito sua implementação em centros urbanos médios ou grandes, devido aos custos que, muitas vezes, o município sozinho não é capaz de suportar”.
O maior crescimento da demanda foi registrado na cidade de Caucaia (CE), que viu o número de passageiros quase quintuplicar com a tarifa zero: o sistema local transportava 510 mil passageiros por mês, em agosto de 2021, e passou a transportar 2,4 milhões de passageiros, mensalmente, em setembro de 2023, um aumento de 371% em um período de apenas dois anos. Caucaia é também a maior cidade brasileira que adotou a tarifa zero, com mais de 355 mil habitantes.
Outras cidades que registraram crescimento expressivo no número de passageiros foram São Caetano do Sul (SP), com crescimento de 218%, em 4 meses; Luziânia (GO), com um aumento de 202%, em apenas dois meses; e Ibirité (MG), com aumento de 106% na demanda, em um período de 3 meses. Maricá (RJ), que adota a tarifa zero há nove anos, registrou um crescimento de 144% na demanda, somente no período de fevereiro de 2021 a setembro de 2023.
Tais números exemplificam a mudança drástica no comportamento dos usuários e no perfil das viagens, que estão optando mais pelo transporte público, a partir do benefício. Além de revelar o aumento na demanda, a pesquisa também aponta para a necessidade de expansão na oferta de ônibus. Sete cidades apresentaram um crescimento na quantidade de passageiros maior que o aumento da quantidade de ônibus e viagens ofertadas, ou seja, demonstrando uma possível mudança no perfil das viagens e um aumento na produtividade da rede de transporte.
Na amostra analisada para o quesito oferta, apenas a cidade de Cianorte/PR não tinha ampliado, até janeiro de 2023, sua frota após a adoção da tarifa zero. Proporcionalmente, os acréscimos mais expressivos aconteceram nas cidades de Aquiraz (CE) e Cacoal (RO), que tiveram que quadruplicar sua oferta de ônibus, para atender ao aumento da demanda (Aquiraz subiu de dois para oito ônibus, e Cacoal foi de um para quatro). Já no caso de Caucaia, a frota cresceu 46% nos últimos dois anos, passando de 48 para 70 veículos.
“Esse aumento da demanda precisa ser considerado pela prefeitura que planeja adotar a tarifa zero. Não basta ter recursos para cobrir o custo atual, é preciso avaliar a necessidade de aumento da frota e definir fontes permanentes de recursos, para que a tarifa zero tenha sustentação”, completou Christovam. De acordo com o levantamento, é possível identificar que a adoção da tarifa zero nos municípios brasileiros cresceu impulsionada pelas circunstâncias da pandemia da Covid-19.
Das 106 cidades onde a tarifa zero é universal, isto é, em todo o sistema de transporte público por ônibus, durante todos os dias da semana, 89 (71,8%) implementaram o benefício nos últimos quatro anos. – Fonte e mais informações: (https://www.ntu.org.br).