Luis Bezerra (*)
Você já ouviu falar sobre o Next Generation MES? O conceito, embora não seja novo, está ganhando força no mercado, especialmente no meio industrial, por representar uma evolução dos dois tipos tradicionais de sistemas de gestão de chão de fábrica: o MES (Manufacturing Execution System) e o MOM (Manufacturing Operations Management).
A atualização desses sistemas, amplamente utilizados por diversas empresas, está alinhada com a atual fase de transformação digital que impacta diversos setores, incluindo a indústria.
Antes de tudo, é importante fazer o seguinte questionamento: a indústria brasileira está preparada para o futuro? Historicamente, o setor industrial no nosso país teve um desenvolvimento tardio em relação à outras nações.
Foi somente em 1930, um século depois do surgimento das primeiras indústrias na Europa, que o Brasil começou a ingressar nessa vertical. Durante a primeira metade do século XX, seguiu crescendo até que, nos anos 80, chegou a ter 35,9% de participação da indústria de transformação no PIB, para depois entrar em uma derrocada e atingir sua menor relevância – 11,2% – em 2020.
Mesmo passando por altos e baixos, no início deste ano, o segmento retomou o seu índice de crescimento. Hoje, o setor possui uma participação mais ativa na nossa economia, representando, em 2023, 15,3% do PIB nacional. O levantamento mostrou que as indústrias brasileiras tiveram um aumento significativo na geração de novos empregos, na onda de um ritmo e volume de produção crescente desde 2022.
Os dados de evolução têm mostrado que existe demanda para a recuperação da indústria brasileira. Porém, para um parque fabril antigo como o nosso, logo chegaremos ao limite da capacidade produtiva. A partir daí, existem dois caminhos: investimento na capacidade de produção ou ganho de produtividade. O primeiro caminho exige tempo e investimento. Já o segundo exige planejamento e compromisso. Factualmente, temos problemas nos dois lados.
Os investimentos dependem majoritariamente de capital estrangeiro, que tem buscado mercados asiáticos quando o assunto é manufatura e a produtividade depende de educação e capacitação para administrar processos e projetos de tecnologia voltadas ao fluxo produtivo. No micro, a indústria é quem sofre: não tem capital para investir em altos custos de projetos de produtividade e tem dificuldade para encontrar pessoas capacitadas para otimizar processos e implementar novas tecnologias.
Sem tomar conhecimento dos problemas da nossa indústria, o mundo caminha a passos largos em direção à digitalização, à gestão via aplicativos e à computação em nuvem. Nessa lacuna entre tecnologia do dia a dia e a defasada tecnologia da industrial surgem novas oportunidades de inovação, mais acessíveis e que têm um potencial enorme de aumento de produtividade.
Nessa mudança, os tradicionais modelos de sistema supervisórios passam a dar lugar à sistemas conectados, nos quais máquinas, pessoas, processos e sistemas interagem entre si. Mais do que monitorar os processos e acompanhar o ciclo de produção, o MES também evoluiu e conta com novas integrações que ampliam a conectividade e a capacidade de tomada de decisão.
Tradicionalmente, quando falamos de implementar uma nova tecnologia, pensamos em processos caros e demorados. A nova geração de soluções, entretanto, torna a jornada mais simples para operadores, desenvolvedores de sistemas e gestores. As coletas de dados tornam-se mais estruturadas, e as ferramentas especializadas em captura de registros garantem qualidade.
Assim, as análises geradas em tempo real resultam em redução de desperdícios e aumento de produtividade e as informações coletadas são entregues aos usuários, que detém o conhecimento do processo e são responsáveis por melhorá-los. Enquanto falamos sobre Chat GPT no dia a dia, a grande parte da indústria ainda roda no papel. Isso só reforça o quanto ainda temos a melhorar e o tamanho da oportunidade a nossa frente.
É fundamental que cada organização do meio industrial busque sempre ser mais produtivo e que veja a tecnologia como aliada para encurtar esse caminho. É por meio da combinação de boas práticas e novas tecnologias que avançamos sem abandonar a satisfação dos usuários, que passam a usufruir de uma gestão otimizada e estratégica em seus atendimentos por serem direcionados por dados e informações com alto índice de precisão.
Afinal, o futuro do setor industrial é promissor para aqueles que souberem explorar e acompanhar o que há de melhor e mais inovador.
(*) – É co-founder da PlantScanner, empresa da SPS Group (https://www.spsgroup.com.br).