Desde que entramos na “era dos influenciadores”, a cada ano observamos mudanças no comportamento do mercado. Estamos caminhando para a profissionalização desse setor que acompanha a transformação digital dos mais diversos serviços e, também, hábitos, incluindo a forma que produzimos e consumimos conteúdo.
Foi-se o tempo em que as grandes marcas procuravam apenas os influenciadores mais famosos da internet para exibir seus produtos. Hoje, sabe-se o valor do público de nicho, que pode gerar muito mais vendas do que uma massa heterogênea de pessoas. Vimos, então, crescer o investimento em perfis “bookgram” (livros), “instaart” (arte), “fashiongram” (moda), “instatravel” (viagem) e tantos outros.
Isso significa que, cada vez mais, vemos pessoas “comuns” se tornarem influenciadoras por compartilharem um conhecimento de nicho — e a atividade de produção de conteúdo se tornar o seu trabalho, pago, inclusive, pelas plataformas onde publicam suas fotos e vídeos. Na área dos jogos digitais, por exemplo, temos uma série de “gamers” youtubers no Brasil que vivem além da renda gerada por seus canais, expandindo para o licenciamento de produtos, como brinquedos, mochilas e diversos materiais escolares. É o caso da Família Arqueira, Athos e a Turma do Problems, por exemplo.
A “creator economy”, ou economia criativa, já é um setor avaliado globalmente em 250 bilhões de dólares, mas apesar de gerar muitos empregos e renda, ainda está em vias de ser regulamentada a nível mundial. Os Estados Unidos, país onde surgiram as primeiras e mais famosas redes sociais, não calculou no seu Censo 2020 o número de pessoas que trabalham como produtoras de conteúdo nessas plataformas. Enquanto isso, o YouTube informou que, apenas em 2022, gerou cerca de 390 mil empregos de tempo integral no país — quatro vezes mais do que a General Motors.
O Brasil também não tem registrado oficialmente quantas pessoas vivem da produção de conteúdo, mas está buscando regulamentar o mercado da economia criativa. O projeto de lei 1.994/2023, conhecido como PL do Streaming, visa definir regras para o funcionamento de serviços de vídeo sob demanda no país. Além das gigantes do streaming, como Netflix, Amazon Prime Video, HBO Max e Disney+, estão inclusas todas as redes sociais que monetizam os vídeos de seus usuários, ou seja, YouTube, Instagram, Tik Tok e outras.
O debate sobre o tema ainda é grande: se, por um lado, tem gente reclamando que os preços dessas plataformas vão subir para o usuário final, por outro, precisamos reconhecer a importância da regulamentação desse mercado para a proteção das pessoas. Ela diminui as chances de exploração dos influenciadores e ajuda a combater as “fake news” (notícias falsas) e outros conteúdos impróprios. A PL garantiria, ainda, que as redes sociais e os streamings entrem na Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Codecine), já que essas empresas estão se beneficiando do mercado brasileiro.
Mesmo que a PL não seja aprovada, ela é um passo expressivo no debate sobre a regulação do setor. O que podemos esperar para 2024 e os próximos anos é uma crescente, necessária e bem-vinda profissionalização do mercado de produção de conteúdo, com mais regras na mesa e mais influenciadores sendo agenciados por empresas sérias. A internet ainda deixará de ser “terra de ninguém”.
(Fonte: Lucas Continentino, sócio-fundador da Curta Hub, maior hub de youtubers da América Latina).
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