Michelle Nunes (*)
Há tempos, os especialistas em clima alertam sobre as consequências do aumento da temperatura global. Além do efeito negativo de conviver com o calor extremo, ela é a principal causadora dos desastres que estamos observando e, segundo os pesquisadores, se a elevação da temperatura não for revertida, as catástrofes serão cada vez mais rotineiras.
A diversidade da calamidade dependerá das características de cada localidade. Pode haver geada ou chuvas e secas intensas em diferentes regiões. Os desastres afetam a economia de diversas formas. Secas extremas e chuvas torrenciais, por exemplo, podem prejudicar a produção de alimentos, seja devido ao alagamento que afetou a plantação, seja porque não houve água para a plantação.
Com uma safra colhida reduzida, o que sobra, vai ser comercializado com um preço maior, resultando em inflação. Enchentes também podem prejudicar empresas, fábricas e indústrias de pequeno e grande porte e a oferta de diversos produtos, que será reduzida ao danificar as máquinas e equipamentos, o que também levará à inflação. É esperado que o Estado ajude essas empresas por meio de uma linha de crédito especial para reposição de maquinário e retomada da produção.
Há ainda os dados habitacionais, que são observados nas grandes catástrofes. As famílias podem perder os bens materiais e a casa. Já os equipamentos públicos como hospitais, escolas, áreas de lazer, praças, pontes e estradas são parcial ou totalmente danificados. Essas famílias, a maioria com uma faixa de renda média ou baixa, precisam de ajuda para reconstruir os lares e retomar à normalidade. Esse auxílio é, na maior parte das vezes, cedido pelo Estado, e gera um aumento momentâneo de demanda de bens duráveis.
No caso dos equipamentos públicos, se espera que sejam reparados ou reconstruídos pelo poder público, o que pode contribuir para o aumento na demanda de trabalho na área de construção civil, gerando emprego e renda. De forma geral, em momentos de desastres, vemos uma participação maior da intervenção do Estado na solução desses problemas.
Os especialistas chamam atenção para a necessidade de mudança na pauta de produção, consumo e estilo de vida, no sentido de reduzir as emissões de carbono e, consequentemente, da temperatura do planeta. A matriz energética está, aos poucos, migrando para matrizes mais sustentáveis.
As empresas e indústrias estão sendo cobradas pela alteração de processos produtivos, visando reduzir as emissões de CO2. A população contribui, individualmente, ao buscar consumir os produtos cuja produção seja mais sustentável e de forma que poluam menos o planeta. É a Pegada Ecológica.
Nas cidades de elevada densidade urbana, ou seja, regiões com um número de habitantes elevado por metro quadrado, os problemas dos desastres são piores, pois, mais pessoas são afetadas e as soluções estruturantes são difíceis. Uma medida imediata para atenuar os efeitos é a conscientização do descarte de lixo, pois, não se pode jogar lixo na rua, muito menos próximo a rios e lagoas.
Esse descarte afeta a malha de esgoto, dificultando o escoamento, e polui os biomas aquáticos, facilitando os transbordamentos. É claro que é importante a ajuda a todos os afetados pelas chuvas, possibilitando-os uma retomada das atividades. Os estudos sobre o Rio de Janeiro, tanto sobre a Unidade Federativa quanto sobre a Capital, mostram as características geográficas e explicam como esses territórios foram ocupados.
Compreender as características da natureza e onde pode ou não haver moradias, onde deve ter algum tipo de barragem ou maquinário de drenagem de água, por exemplo, são importantes para a construção de uma espécie de plano de resposta à desastres ambientais.
A população, o setor público e o privado, têm que entender o plano e o respectivo papel no ambiente em que vivem, concordar e ajudar na manutenção, pois, todos somos afetados.
Nossos ancestrais conviviam bem com a natureza. Mesmo sendo um planeta com mais pessoas, se o compreendermos, e quisermos ajudá-lo, também podemos fazer a nossa parte.
(*) – É coordenadora do curso de Ciências Econômicas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.