Camp Pendleton é uma das maiores bases militares dos Estados Unidos. Localizada no sul da Califórnia, próximo a San Diego, abriga milhares de soldados, em sua maioria, pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais.
Vivaldo José Breternitz (*)
Há mais de vinte anos, a imprensa noticiava que ali seria implantada uma área onde permaneceriam detidos os soldados acusados de transgressões disciplinares; transgressões são ofensas relativamente leves aos regulamentos, em função das quais os militares americanos podem ser privados da liberdade por até 30 dias.
Nestes tempos em que se fala tanto aqui em “direitos humanos” (que devem ser garantidos a todos e que numa inversão de valores estão sendo sonegados ao cidadão comum), humanização das prisões etc., convém verificar qual era o regime a que estariam sujeitos esses cidadãos do Primeiro Mundo acusados de transgressões disciplinares leves.
Os detidos teriam aulas e programas de aconselhamento em tópicos como gerenciamento de stress e de problemas financeiros, cortesia e tradições militares etc., além de um intenso programa de treinamento físico – aqueles que se recusassem a participar desses programas, teriam seus casos submetidos à Justiça Militar e provavelmente seriam expulsos do Corpo, o que nos Estados Unidos significa problemas sérios na busca de emprego, escola etc.
A rotina diária iniciava-se às 5 da manhã (6 aos domingos), encerrando-se às 22 horas, quando as luzes eram apagadas. Além dos exercícios físicos diários, semanalmente haveria uma corrida de 25 km. Para aumentar o espírito de corpo, os detidos quebrariam pedras, utilizando marretas em ritmo cadenciado, marcado por gritos de guerra dos Fuzileiros.
Também carregariam troncos por grandes distâncias, como forma de mostrar que o trabalho em equipe é mais produtivo, e que os mais fracos devem ser ajudados pelos mais fortes. Evidentemente, todos os outros trabalhos de limpeza e manutenção da área seriam executados pelos detidos.
Como forma de aperfeiçoar a civilidade, os detidos deveriam pedir licença aos seus guardas para lhes dirigirem a palavra, e não poderiam utilizar a primeira pessoa: “Este detido deseja falar-lhe, sr. Sargento”, ou “Este detido necessita ir ao sanitário”, são exemplos da linguagem que deveria ser utilizada.
Os Fuzileiros são muito ciosos da civilidade, do protocolo: a título de curiosidade, quando um membro do Corpo deve responder positivamente a uma questão formulada por um superior ou por um civil, diz “Yes, Sir”; quando recebe uma ordem direta, tem que confirmar ter entendido essa ordem, situação em que responde dizendo “Aye aye, Sir”.
Como foi dito, trata-se de cidadãos de um país do Primeiro Mundo, acusados de transgressões disciplinares leves. Não seria o momento de traçarmos um paralelo acerca do que nossos criminosos estão reivindicando e de como nossos cidadãos comuns, que trabalham e pagam impostos, estão vivendo?
Que tal deixarmos de lado a hipocrisia e o coitadismo e tratarmos aqueles que mataram, estupraram e roubaram, não importa sua condição social, idade etc., de forma a que os cidadãos comuns possam ao menos viver um pouco mais tranquilamente?
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.