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O poder de influencers na compra de produtos falsificados

em Denise Debiasi
terça-feira, 21 de novembro de 2023

É antiético adquirir e consumir algo que não tenha a devida autorização legal, não respeite os direitos autorais dos reais proprietários das marcas, tenha sido contrabandeado e não pague impostos. Ao mesmo tempo, não é nem um pouco complicado acharmos pessoas que considerem válido comprar esse tipo de produto em nome da economia de preço. Para esse público, é natural buscar as opções mais viáveis financeiramente, principalmente quando o valor cobrado é considerado fora da realidade para seu bolso.

Diante desse dilema ético, os produtos piratas movimentam, segundo as estimativas internacionais, cerca de US$ 500 bilhões todos os anos no planeta. Esse valor representa cerca de 2,5% do comércio mundial de mercadorias. No Brasil, infelizmente, os índices são maiores, ultrapassando tranquilamente a casa dos dois dígitos. Estamos entre as nações que mais consumem pirataria, com destaque para produtos digitais como programas de televisão, livros, filmes e músicas. Além do altíssimo percentual de falsificação, acompanhamos o crescimento desse mercado anualmente. Em alguns setores, a parte informal rivaliza em tamanho com a parte formal, em um descalabro que provoca prejuízos bilionários ao país.

Estou falando desse assunto hoje porque vi o resultado de uma pesquisa surpreendente que foi realizada pela Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, sobre os hábitos dos consumidores das mídias sociais. E para espanto dos pesquisadores (e dos profissionais do mercado empresarial), 22% dos entrevistados disse achar perfeitamente normal comprar produtos piratas quando recomentados pelos influenciadores digitais. Ou seja, apesar de saber que a aquisição de itens falsificados é eticamente condenável, uma parcela considerável (quase um quarto) dos pesquisados muda automaticamente de opinião quando assiste ao endosso de alguém com credibilidade no universo digital falar o contrário. Se a pessoa descolada acha que pode adquirir e usar determinados serviços e mercadorias, então pode!

Admito que fiquei assustada com o resultado da pesquisa inglesa. Em outras palavras, falsificadores podem se aproveitar da popularidade e da credibilidade dos influencers para promover produtos ilegais e alcançar um número maior de consumidores, que de outras maneiras se oporiam a tal prática. O público de 16 a 33 anos, mais familiarizado às redes sociais, é justamente o perfil mais suscetível ao discurso em prol da ilegalidade. Eles têm três vezes mais chances de comprar pirataria recomendada pelas celebridades do que o público de 34 a 60 anos.

Com a força dos influencers, me pergunto automaticamente se eles são profissionais que trabalham sob códigos de ética rigorosos ou se aceitam anunciar qualquer coisa em nome da boa remuneração. O que você acha? Diante do peso cada vez maior dos famosos das redes sociais, me parece mais urgente a criação de uma cartilha ética para essa atividade do que para a Inteligência Artificial, como muitos pedem após o sucesso do ChatGPT.

Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.