Luciano Lessa (*)
O impulso da Inteligência Artificial ganhou novo fôlego em 2023, principalmente pelo avanço da IA Generativa, que tem se tornado cada vez mais relevante nas empresas brasileiras, bem como um diferencial fundamental para os negócios.
Não à toa, o Brasil ganhou três posições no último índice global de inovação, passando da 57ª para a 54ª posição na edição de 2022 do Global Innovation Index (GII), estudo elaborado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO, na sigla em inglês).
Apesar de ainda muito distante do ideal, esse pequeno avanço brasileiro confirma que a IA é uma oportunidade para crescer: automatizando massivamente em escala, melhorando a análise de dados, além de possibilitar com que empresários se mantenham competitivos num ambiente em constante evolução.
Entretanto, sem investimentos estratégicos e políticas públicas voltadas para à inovação, muitas empresas enfrentam desafios internos que retardam o processo inovativo e não as deixam se preparar para disrupções. Isso porque o processo de inovação no Brasil ainda enfrenta resistência e falta de apoio para alcançar todo o potencial que existe no país. Inovar não é fácil e as tentativas corporativas de introduzir novos programas ou iniciativas enfrentam muitos desafios.
E o maior deles está dentro de casa. Todos os esforços para uma inovação corporativa bem-sucedida, por exemplo, só fazem sentido quando existe uma cultura de inovação dentro daquele ambiente. O que ocorre, infelizmente, é que vários gestores acreditam erroneamente que a inovação pode vir a ser um obstáculo para a própria carreira, temendo que suas tarefas diárias não sejam mais necessárias. Como resultado acabam travando investimentos no setor.
Esse change management é, na minha visão, o primeiro passo para uma inovação organizacional verdadeiramente bem-sucedida.
Um estudo da Dell Technologies, chamado Innovation Index, avaliou o grau de maturidade das empresas brasileiras em relação à adoção de inovações capazes de impactar seus resultados de negócios. Ele apontou que 83% dos executivos das empresas participantes do estudo no Brasil classificam suas organizações como inovadoras. No entanto, 52% desses mesmos executivos temem que suas empresas se tornem irrelevantes nos próximos 3 a 5 anos.
O motivo? Creio que isso se deve porque muitas delas querem investir em inovações, mas não conseguem implementar estratégias e nem as adotar corretamente, fazendo com que temam se tornarem irrelevantes se não seguirem com determinada ferramenta nos próximos anos. E assim se sentem dissuadidos em fazer mudanças. Por isso é preciso investir não somente em uma base de implementação de projetos e, sim, na cultura de inovação. Mas é preciso ir além.
O custo é outro lado sensível para as corporações brasileiras. As políticas públicas brasileiras do ponto de vista de falta de incentivo, investimento, bem como os tributos aplicados à área de tecnologia, tornam os processos de implementação mais burocráticos e, como consequência, aumentam o custo para a inovação.
Para que o Brasil avance nesse sentido, é preciso urgentemente criar uma mentalidade governamental, como já ocorre em outros países, da importância de se investir, de fato, nessa área, criando hubs de inovação, leis facilitadoras do processo, incentivos fiscais, além de diminuir a tributação referente às despesas desse segmento, entre outros.
O lado difícil da inovação no Brasil é superar tais entraves. À medida que as ações em prol da inovação forem sendo trabalhadas de forma conjunta entre os setores, o Brasil certamente se destacará nessa área, pois somos um povo criativo por natureza.
Sabemos que há um longo caminho ainda a ser percorrido nesse sentido, pois hoje as empresas fazem o processo de inovação apenas baseado nas oportunidades realisticamente disponíveis para o mercado brasileiro, ao invés de vez de se abrirem para todo o universo de possibilidades existentes. Cabe a nós sermos agentes dessa mudança.
(*) Diretor de Prática, Desenvolvimento e Inovação da Avvale.